A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

2 de junho de 2017

Amor América

A maior cena de amor Americana não é nenhum beijo de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Não tem Deborah Kerr nem Gregory Peck, não é aquele beijo do soldado na enfermeira no final da Segunda Guerra Mundial. A maior cena de amor Americana é Jacqueline Kennedy Onassis subindo em desespero a capota daquele Ford modelo Lincoln para catar os pedaços explodidos da cabeça de John Fitzgerald Kennedy. São algumas dezenas de fotogramas da primeira dama em transe, ensangüentando as mãos nos miolos daquele 22 de novembro de 1963. Lee Harvey Oswald matou Kennedy. Dois tiros cirúrgicos, um no pescoço e outro fatal na cabeça. Foi você mesmo Oswald?! Não! Oswald o teria devorado! Lee Harvey ex-marine. Até tu Brutus?! É presidente, quem deu o tiro foi um dos teus... Naquele dia D of the Big D, Dallas city. Don´t you mess with Texas, Mr. President. Sempre que vejo um beijo em preto e branco ou escuto ao longe o Sam tocando de novo em Casa Blanca, lembro de Dona Jacqueline ajoelhada no carro, já funerário, atrás do cérebro espatifado do marido. Amar é ter nas mãos essa massa cinzenta que pensava a América! Cinzenta como a Lua que ele queria conquistar. Flicts. É presidente, naquele 20 de julho de 1969 lembrei de suas palavras. Um homem na lua. E você, o que teria pensado Kennedy ao ver na distância aquele foguete Saturno V cortando os céus como a bala que cortou o ar até a sua cabeça?! A small trigger for a man’s finger but a giant blow for a human head! Dona Jacqueline catando miolos para alimentar mortos vivos! Miolos! Miolos! Nada é por acaso nessa vida. Lincoln morreu na sala Ford do teatro Kennedy. Kennedy morreu num Ford modelo Lincoln. É, nada é por acaso nessa vida. Sempre que penso no amor na América penso em Dona Jacqueline ajoelhada, apavorada, apaixonada, com as mãos empapadas de sangue, catando a cabeça explodida do marido.

E Pelé disse: Love, Love and Love!
 

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