A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

1 de agosto de 2016

Doomsday



será quando a trombeta ressoar, como escreve são joão, o teólogo.
foi em 1757, segundo o testemunho de swedenborg. 
foi em israel (quando a loba cravou na cruz a carne de cristo),
         [mas não só então.
ocorre em cada pulsação de teu sangue.
não há um instante que não possas ser a cratera do Inferno.
não há um instante que não possas ser a água do Paraíso.
não há um instante que não estejas carregado como uma arma.
em cada instante podes ser caim ou siddharta, a máscara ou o rosto.
em cada instante pode revelar-te seu amor helena de tróia.
em cada instante o galo pode ter cantado três vezes.
em cada instante a clepsidra deixa cair a última gota.
 
William Zeytounlian traduz o poema "Doomsday", de Jorge Luis Borges (1899 - 1986), e então empresta sua voz ao poeta argentino. Gravado em Berlim a 25 de fevereiro de 2014.

Jorge Luís Borges

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