A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

7 de abril de 2016

Estratégia Angular de um Poema


Lula Wanderley

A ESTRATÉGIA ANGULAR DE UM POEMA de Lula Wanderley
Curadoria Izabela Pucu
Galeria 5
O artista Lula Wanderley apresenta uma série de fotos e filmes realizados sob o impacto das manifestações populares de 2013


Os trabalhos apresentados nesta exposição se fazem ainda sob o impacto das manifestações populares vivenciada por Lula Wanderley nas ruas do Rio de Janeiro, em face dos conflitos que tomaram o mundo em 2013. Não são feitos, no entanto, como as matérias jornalísticas no calor da hora. Como acrescentou a curadora da exposição, Izabela Pucu, - “Esses trabalhos fazem parte de uma segunda geração de trabalhos realizados a partir das manifestações de junho de 2013, que pelo distanciamento do tempo resultam numa reflexão mais elaborada, mais sofisticada e que também é afetada pelo momento atual”.


Lula Wanderley apresenta imagens e um filme a partir de imagens capturadas na internet, ou recebidas, vindas da Turquia, do Brasil, do Chile. Usando a manipulação digital o artista extrai ou insere informações de forma quase imperceptível, dando, por exemplo, a situações absolutamente violentas uma ironia fina que causa estranhamento.


Em uma das fotografias da série A impostura da arte e a realidade da política (2013 – 2016) Romário corre para comemorar um gol levantando a camisa para exibir as famosas frases usadas pelos atletas sob o uniforme. No lugar normalmente dedicado à frases ligadas às suas famílias ou à religião, o que aparece é a foto estampada do crítico de arte e militante brasileiro Mario Pedrosa, amigo e uma referência para o artista. Em outra, há a cena de uma cobrança de falta em que todos os elementos foram retirados, restando apenas as traves e a bola. No lugar de quem cobra a falta está um manifestante e a barreira é feita por policiais fortemente armados. Um mascarado, na ponta da imagem, parece comemorar o gol. Ao todo são oito fotografias, cinco de 100x70 cm e três de 150x100 cm.


A série que intitula a exposição A Estrutura angular de um poema (2013 – 2014) é dedicada ao poeta Wlademir Dias-Pino e ao técnico do Barcelona Josep Guardiola, Após estudar incessantemente diversos jogos, o artista seleciona um gol do Barcelona em que os passes para o gol reproduzem uma trajetória apenas em ângulos, como os poemas visuais de Dias-Pino, e os adversários são retirados. “Se tirar os adversários e a bola do jogo, os jogadores viram bailarinos. É mais sobre a vida que sobre política e futebol”, diria o artista. Exposição realizada e concebida pelo Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica.


Lula Wanderley é artista e psicoterapeuta. Há 28 anos coordenada o Espaço aberto ao Tempo, no Instituno Nise da Silveira. Nasceu em Recife, e vive no Rio de Janeiro há mais de 30 anos.

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