A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

28 de fevereiro de 2014

ÉRRE QUE ARRANHA! (Uh, Uh, Uh...)

o R que arranha
rasgando a garganta
riscando com sangue
a raiva da gente
rosnando lá dentro
no verbo que aderna
o grito se forma
se enrosca na alma
arranca do corpo
um urro profundo
rasgando a palavra
roendo o silêncio
catarse que ferve
quebrando o silêncio
são pedras que rolam
é vento que sopra
sentidos diversos
é força que impele
o urro do Rock
no R que arranha
a reta se entorta
provoca o que cala
arranca da alma
o amor que não cabe
na pouca palavra
a voz da revolta
convoca aos primórdios
de antes da fala
o ódio do pouco
do mesmo de novo
do passo parado
do rumo medido
do fuso cansado
do mesmo de tudo
do som do silêncio
palavra que trava
palavra que troca
sonhar por dormir
mudar por ficar
guardando a vida
em meio à redoma

a voz do que grito
é ódio que inflama
rosnando e rasgando
é voz que se atreve
e trava o confronto
a voz é conforto
o urro é confronto
a voz quando inflama
levanta seu ponto
levando o grito
que irmana a justiça
e o povo na praça
saltando da fala
rasgando a garganta
no R que arranha
dizendo mais alto
a alma do mundo
a fúria que arranca
do R que entala
o grito da gente

palavra impressa
ressaca cansada
da vida que passa
na frente de todos
tal trem que se afasta
tal nave perdida
tal nau que naufraga
fragata que erra
no sonho que assanha
a sanha da vida
assina perdida
a letra jaz morta
ressoa tal eco
no oco da gente
ecoa no mundo
um eco que explode
o mundo gerúndio
com tudo bem fundo
vai indo em frente
perpétuo contínuo
e treme no peito
o R que range
a porta que trava
a trova que solta
o som do infinito
na rota da reta
(caminho mais curto)
que encurta os dizeres
do tudo não dito
o pouco que sobra
nem sempre recruta
verdade evidente
as vezes o certo
é mesmo incerto
é pleno deserto
é falta que sobra
é sobra que falta
é coisa que para
é mágoa
é mistério
é sombra que paira
esperança que fica
no nó da garganta
é grito que urra
é coisa que voa
é rito proscrito
dos ditos que ficam
e restam inertes
nas vozes dos verbos
no som da palavras
sentidos vigentes
perdidos pra sempre

Salvador Passos

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