A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

3 de outubro de 2013

Blek Le Rat: Streetwriting man


No início dos anos 90, um jovem inglês começou a transformar as ruas de Londres numa paleta para seu próprio proveito, elevando o graffiti a uma nova consciência social e política. Passados cerca de vinte anos, o nome de Banksy tornou-se parte da indústria cultural de galerias e museus, reconhecido internacionalmente como o representante máximo de arte de rua. No entanto, enquanto Banksy ainda estava no infantário, Blek le Rat já tinha inventado a técnica do estêncil de rua e transformado as paredes de Paris em manifesto contra a guerra, o consumo e a liberdade.

Blek le Rat, ou melhor Xavier Prou, cresceu nos subúrbios parisienses de Boulogne e na Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts teve uma privilegiada formação como arquitecto. Em 1971, ao visitar Nova Iorque, deparou-se pela primeira vez com o graffiti e com a marca pessoal do tag. Deslumbrado com este novo universo plástico, tentou em Paris recriar o estilo norte-americano, mas sem sucesso. A reprodução do que observou em Nova Iorque não seria suficiente, Blek le Rat aproveitou a estilização da propaganda fascista em Itália e inaugurou a técnica do estêncil de rua (aplicação de tinta na parede sobre um recorte em papel ou acetato). O seu conhecimento arquitetônico da estrutura urbana de Paris foi fundamental e o seu tag seria um pequeno rato, inspiração na personagem de banda desenhada Blek le Roc. Além de “Rat” ser um anagrama para “Art”, Blek justificou na altura a referência aos ratos por serem “queria lembrar aos parisienses que por baixo de sua bela cidade havia vermes, existem mais ratos em Paris do que seres humanos”. 

Banksy aproveitou a técnica de estêncil – chegando mesmo a reproduzir muitos dos ratos de Blek – e tornou-se no artista de rua mundialmente mais reconhecido. Blek não guarda rancores contra o sucesso do londrino, mas demonstra frustração com a comercialização de Banksy e da arte de rua em geral. 

Em entrevista ao The Independent, esta semana, disse: “Ninguém mais se importa interessa por quem é o verdadeiro artista. O objetivo final é roubar dinheiro das pessoas”.


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