A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

22 de agosto de 2013

compasso dos passos do mundo

compasso dos passos que ficam
passando a limpo o passado
um mundo que fica passando
passado, já visto, enfadonho
o sonho sonhado acordado
um sonho de um sonho mofado
mortalha de tantos fracassos
o mundo não passa de farsa
o mundo não passa não passa
passando no passo de tudo
o mundo não passa de nada

Salvador Passos

é feito de falta

poema é feito de falta
de fala, silêncio e de pausa
a trava da lígua que fala
o sentido da língua que segue
seguindo seu rumo no mundo
no ritmo de tudo que ruma
um rumo sem prumo ou destino
mas mesmo assim segue indo

Salvador Passos

há sempre um siso doendo

você que não tem nada a dizer
escreva um poema sobre isto
e cale em grande estilo

você que não tem nada a dizer
diga um poema conciso
que tenha sentido por dentro
pois dentro do silêncio postiço
há sempre um siso doendo
há sempre um sopro soprando

Raimundo Beato

21 de agosto de 2013

Black Bloc in Rio

retirado do Piauí Herald...

Roberto Medina anuncia programação do Black Bloc in Rio
13/08/2013 18:57 | Categoria: Cultura


O camaleão David Bowie mostrou sua nova faceta

CIDADE DO ROCK - Sempre atento às oportunidades de transformar movimentos contraculturais em megaeventos, o empresário Roberto Medina anunciou a realização da primeira edição do Black Bloc in Rio - um Outro Mundo Possível. "Pablo Capilé me ajudou a selecionar vândalos independentes por cachês super em conta. Os quebra-quebras acontecerão no Leblon e terão transmissão ao vivo pela Mídia Ninja. Estudantes da rede pública, tiozões roqueiros e Tico Santa Cruz pagarão meia entrada", revelou.

Com um mapa na mão, o empresário mostrou que as atrações principais se apresentarão no Palco Fora do Eixo, montado em frente à casa do governador Sérgio Cabral. Diversas pessoas já acampam no local em busca de ingressos - o mais barato custará 500 reais. Militantes alternativos depredarão o Palco Toulon. "Uma área VIP será montada no Antiquarius", completou Medina.

Na cola de Medina, Luis Calainho anunciou, para o final do ano, um musical inspirado na ocupação da Alerj. Pepperspray - uma Louca Aventura contará a história de uma feminista que se apaixona por um policial militar durante as manifestações. "Teremos Miguel Falabella no papel de Beltrame. Claudia Raia dançará coberta de plumas enquanto é atingida por uma chuva de coquetéis molotov", explicou.

Leia também

Desmonetizado, Eike Batista se muda para casa Fora do Eixo

Alerj é interditada pela vigilância sanitária

Gilberto Gil compreende sistema de desmonetização da rede Fora do Eixo

AGENDA


Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro Rio de Janeiro

Quando: 22 de agosto de 2013 @ 15:00 - 16:00
Onde: passarela da rocinha, Rocinha, Rio de Janeiro, Brasil

Saiba mais aqui.

Ocupação Cultural e Lavagem de Baratas

Quando: 25 de agosto de 2013 @ 8:00 - 0:00
Onde: OcupaCamara, Cinelândia - Centro, Rio de Janeiro, Brasil

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Reflorestamento da Aldeia Maracanã

Quando: 25 de agosto de 2013 @ 10:00 - 11:00
Onde: Aldeia Maracanã, Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil

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FORA CABRAL E A FARSA ELEITORAL

Quando: 27 de agosto de 2013 @ 18:00 – 28 de agosto de 2013 @ 2:00
Onde: largo do machado, Largo do Machado - Flamengo, Rio de Janeiro, Brasil

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Bicicletada Centro

Quando: 30 de agosto de 2013 @ 18:30 - 19:30
Onde: odeon, Cinelândia - Centro, Rio de Janeiro, Brasil

Saiba mais aqui.

20 de agosto de 2013

'Black blocs' se perdem ao procurar ponto de ônibus durante ato em SP


gonzo jornalismo mainstream...

retirado da Folha:

16/08/2013 - 03h00
'Black blocs' se perdem ao procurar ponto de ônibus durante ato em SP

DE SÃO PAULO

Presença constante manifestações para melhorar o transporte público, um grupo de 30 "black blocs" se perdeu brevemente ontem à noite ao procurar a linha de ônibus que os levaria do centro de São Paulo até a Assembleia Legislativa, na zona sul.

Acompanhados por um número superior de policiais militares, os anarquistas, a maioria mascarados, deixaram uma pequena manifestação de universitários contra a violência policial, na praça Roosevelt, e decidiram se unir aos acampados diante da Assembleia Legislativa.

Depois de fechar ruas no centro, protesto contra a PM chega à praça Roosevelt

Eles desceram em direção ao Anhangabaú e cruzaram a avenida 23 de Maio para chegar ao terminal Bandeira, mas voltaram quando alguém gritou que era para o outro lado.

No caminho, integrantes do grupo pichavam o símbolo do anarquismo e "poder popular" em paredes e ônibus.

Fabio Braga/Folhapress

Grupo de 'black blocs' entra em ônibus sem pagar para ir do centro à Assembleia Legislativa de São Paulo

CADÊ O ÔNIBUS?

No terminal, ninguém sabia qual linha de ônibus pegar. Após minutos de indecisão, uma militante achou o veículo: "Tem uma placa gigante dizendo Ibirapuera".

Os anarquistas então lotaram o ônibus, que já tinha alguns passageiros, entrando sem pagar. O motorista e o cobrador chegaram a deixar o veículo, mas, depois de alguns minutos, voltaram, trocando o letreiro de "Jardim Luso" para "Especial".

Tranquilos, os anarquistas passaram a viagem alternando insultos ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à presidente Dilma Rousseff (PT) e brincadeiras: "Motorista/pode correr/o 'black bloc' não tem medo de morrer".

Ao descer, os anarquistas agradeceram o motorista. Sorrindo, ele respondeu com aceno e buzinadas.

16 de agosto de 2013

Cidades Rebeldes


jornadas de junho na boitempo

Fotografia é retirada de exposição por medo de represália policial


Uma fotografia que fazia parte de uma exposição em São Paulo foi retirada depois que alguns policiais militares estiveram no local questionando a obra, informou a reportagem do UOL.

De autoria do fotógrafo Antônio Brasiliano, a imagem que não agradou aos PMs é de 2005 e mostra a ação de reintegração de posse do edifício Prestes Maia, na capital paulista. Na foto há um grafite em primeiro plano, com desenhos de ratos, e no fundo a tropa em formação. Ela foi exposta no muro de entrada do centro cultural Espaço Cult, na Vila Madalena, e fazia parte da mostra 4 Retratos, que envolve também trabalhos de Thelma e Marcos Vilas Boas, Julio Kohl e Marcelo Naddeo, inaugurada dia 3 de julho. Era para ficar no local até o dia 24, mas foi retirada nesta quarta-feira (14).

“A PM abordou frequentadores, proprietários e vizinhos do espaço questionando sobre o conteúdo da obra. Não estava presente, mas é óbvio que existiram bons motivos para que a fotografia fosse retirada antes do término da exposição. Com tantos casos de abuso de autoridade e violência policial, as pessoas se intimidam e têm medo de represálias”, disse Brasiliano à reportagem, que ouviu da assessoria da PM não haver nenhuma denúncia a respeito. “Não há nenhum posicionamento da PM para que policiais censurem ou proíbam a exposição de uma obra. Isso não é permitido”, informou a assessoria, que à Folha classificou o incidente como uma possível “ação individual de alguns soldados”

Photochannel

Luta ou Fuga?



Aos companheiros das jornadas de junho

O cérebro humano primitivo
espreita, escuta, pressente:
o ruído, o silêncio, o perigo.
Tensão, pupilas, pulmão.

Atenção…

Adrenalina, músculos, ação… ou não:
mordida, ferida, contusão.
Lutar ou fugir?

Eis a questão!

Hamlet com uma caveira na mão
sobre a cova de um causídico
indaga ser justa ou delírio,
a raiva que move sua mão.

Fugir ou lutar?
Ousar ou fingir.
Outra face… perdoar?
Sonhar, voltar a dormir?

Viver, acordar!

Para a rua… protestar!
Fogueiras, vinagre, bandeiras,
negras ou vermelhas,
Nenhum passo atrás!

Lutar!

Mauro Iasi
Blog da Boitempo

14 de agosto de 2013

falso dialogo entre pessoa e caeiro

-a chuva me deixa triste...
-a mim me deixa molhado

José Paulo Paes

Austericídio

A austeridade está nos suicidando?
No Velho Continente, os problemas da depressão e os suicídios estão experimentando notável aumento


Juan Gelman*


Sócrates, Platão, Plotino e muitos outros filósofos analisaram o tema do suicídio ao longo dos séculos. A maioria o condena, como o judaísmo e o cristianismo.

Para Santo Augustinho “o que mata a si mesmo é um homicida”. Os epicúreos opinaram que a falta de sofrimento é o bem supremo e justificaram o ato quando a existência, em vez de alegrar, se converte em uma causa de aflição.

Os estoicos pensavam que era um tema grave a tratar com circunspecção e, em efeito, é muito difícil desentranhar as razões pelas quais alguém se tira a vida. Nunca é uma só. Cabe dizer que as circunstâncias exteriores exercem um papel maior ou menor, algumas vezes decisivo.

No dia 1° de outubro se comemora o dia europeu contra a depressão. Entre os habitantes do Velho Continente, “imersos nesta situação de crise econômica e a prevalência do estresse por trabalho, os problemas da depressão e os suicídios estão experimentando um notável aumento”, afirmou a Associação Europeia sobre a Depressão. Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) “alertou que o suicídio… constitui uma das três principais causas de morte entre as pessoas de 15 a 44 de idade” (www.infocop.es, 11012). O suicídio de pessoas despejadas de suas casas porque não podem pagar a hipoteca é um fato notório na Espanha.

O fenômeno não se limita a Europa. Os centros de controle e prevenção de enfermidades dos EUA (CDC, na sigla em inglês), organismos oficiais, informaram recentemente que as mortes por suicido superaram em número as causadas por acidentes de trânsito. “As taxas de suicídio entre os estadunidenses se elevaram desde 1999” (www.cdc.gov/2513). Os CDC levaram a cabo uma investigação entre adultos de 35 a 64 de idade e comprovaram que essas taxas haviam aumentado em 28%, especialmente entre brancos não hispanos e sobretudo em 39 dos 50 estados do país. O maior incremento foi observado nas pessoas de 50 a 54 (48%) e de 55 a 59 (49%), idades nas quais aqueles que perderam o trabalho pela crise econômica praticamente não encontrarão outro.

Não se trata apenas dos adultos. David Stuckler, investigador de mais alto escalão em Oxford, e o epidemiólogo Sanjai Basu, da Universidade de Standford, descobriram que 750.000 jovens (em sua maioria sem trabalho) haviam se voltado ao álcool e que mais de cinco milhões de estadunidenses perderam o acesso à saúde pública no período mais duro da recessão porque passaram a integrar as filas dos desempregados. A taxa de suicídios se elevou abruptamente no lapso 2007/2010, destacaram em um estudo publicado em maio (www.nytimes, 13-5-13). Um caso particular é o estado da Virginia, onde foram registradas as taxas de suicídios mais altas dos últimos 13 anos: é três vezes mais provável que os virginianos morram por suicídio que por homicídio (capitalnews.reu.edu, 8-5-13).

Stuckler e Basu encerram seu relatório com a seguinte conclusão: “O que aprendemos é que o perigo real para a saúde pública não é a recessão per se, mas a austeridade”, ou seja, as medidas impostas pela chamada Troika – o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu – para enfrentar a crise. Se presenciam reuniões dos chefes de Estado europeus com representantes da Troika nas quais estes últimos ditam as políticas econômicas que devem seguir os países da União Europeia. Nunca foi tão descarada a inversão dos termos “a política dirige a economia”, hoje substituídos por “a economia dirige a política”.

A correlação suicídios/austeridade é clara não apenas no Velho Continente e nos EUA. Investigadores australianos determinaram que a taxa de suicídios aumenta em seu país sob os governos conservadores (news.bbc.co.uk, 18-9-12). Quando as políticas de austeridade começaram a devastar a Grécia, dita taxa cresceu 18%: apenas em Atenas se elevou 25%. Antes deste flagelo, a Grécia tinha a taxa de suicídios mais baixa da União Europeia (www.euronews.com, 5-4-12).

A Islândia é o exemplo contrário. Em 2008 padeceu a crise bancária mais grave de sua história: três dos bancos mais importantes se declararam em bancarrota, o desemprego subiu para as nuvens e se desvalorizou a moeda nacional. Apesar disso, Reijawick não cortou o orçamento de seus programas sociais nem se dobrou à austeridade e, mediante acordos diversos, saiu da crise. Não se registrou um aumento significativo da taxa de suicídios durante o colapso financeiro (www.altenet.org, 3-8-13).

Como disse o Nobel de Economia Paul Krugmam: “A crise que estamos atravessando é fundamentalmente gratuita: não é necessário sofrer tanto nem destruir a vida de tanta gente”.

*Poeta, escritor e jornalista argentino. Chefe de Redação da IPS entre 1974 e 1976. Desde 1976 reside no México, onde chegou exilado pela ditadura militar que lhe arrancou seu filho e sua nora grávida. Entre sua vasta obra se destacam seus livros: Os poemas de Sidney West (1969), Fábulas (1971), Hechos y relaciones (1980), Citas y comentarios (1982), La junta luz (1985), Composiciones (1986), Interrupciones I e II (1988) e Salarios del impío (1993).

13 de agosto de 2013

CADASTRADO

Uma vez, aos sete anos,
partiu à pedrada a lanterna da porta da igreja.

Dez anos depois, conduzindo um carro,
não parou num cruzamento de rua
onde havia um sinal de stop.

Dois anos depois, teve uma briga
num bar, e partiu a cabeça de um amigo
com uma garrafa de cerveja.

Quando se recusou a combater no Viet-Nam,
o seu cadastro provava como desde a infância,
sempre manifestara sentimentos
nitidamente de traidor à pátria.

Jorge de Sena
in A perspectiva da morte: 20 (-2) Poetas portugueses do século XX,
Org. Manuel de Freitas, Assírio & Alvim

9 de agosto de 2013

na cidade aberta, escritos 8

Qualquer escrita é permanecer
em movimento
quem escreve jamais deixará de ser ninguém

Alberto Pucheu

que me prega ao mundo

crava neste peito agora o prego
nesta placa que me prega ao mundo como indivíduo
este nome que me atravessa aos verbos

Raimundo Beato

3 de agosto de 2013

Anotações sobre lucro de bancos e vandalismo



Carta Maior

Em geral, os resultados econômico-financeiros da contabilidade das empresas são apurados e divulgados ao final de cada trimestre. Mas os anúncios mais aguardados mesmo são aqueles relativos aos dados consolidados a cada seis meses. E agora, aos poucos, começam a ser publicadas as informações referentes ao desempenho dos negócios no período janeiro a junho de 2013.

Mais uma vez os números da performance semestral dos bancos chegam para estraçalhar qualquer pessoa ou instituição minimamente informada a respeito da realidade social e econômica de nosso País. Um verdadeiro acinte! Instituições parasitas, que nada produzem em termos reais e concretos faturam cifras da ordem do inimaginável. A conjuntura econômica está meio incerta, as taxas de crescimento oscilam, alguns setores reduzem o ritmo de admissão, outros começam até mesmo a demitir empregados. Mas os bancos estão como sempre: firmes e fortes! Lucrando muito mais do que todos e, ainda por cima, também demitindo seus empregados.

Mais uma vez, a enormidade dos lucros dos bancos
Os primeiros a divulgarem seus resultados foram o Itaú-Unibanco, o Bradesco e o Santander. O lucro líquido de cada um deles para o primeiro semestre foi, respectivamente, de R$ 7,1 bilhões, R$ 5,9 bi e R$ 2,9 bi. Trata-se de instituições financeiras privadas, que distribuem seus lucros entre acionistas, proprietários e demais dirigentes. No caso do multinacional espanhol, o detalhe é que a porção tupiniquim responde por 25% dos ganhos do conglomerado em escala planetária. É a filial brasileira segurando a peteca e amenizando os impactos da crise mundial no grupo.

Ao longo de todo o ano de 2012, essas mesmas 3 instituições privadas do financismo já haviam realizado um lucro líquido total de R$ 28 bi. Ou seja, mesmo depois de todo o pente fino contábil - realizado pelo ramo especializado chamado eufemisticamente de “planejamento tributário” – os poderosos dos bancos embolsaram esse volume mastodôntico de recursos gerados em nossa economia, produzidos por nossos cidadãos.

Como é amplamente sabido e conhecido, os bancos no Brasil operam há décadas em ambiente propício à acumulação de capital sem muito esforço empresarial. Basta emprestar recursos ao Estado rolar sua dívida pública e receber juros dignos de campeão do mundo por esse tipo de operação. E na outra ponta oferecer recursos sob a forma de crédito e empréstimo a empresas e famílias, com taxas de juros e “spreads” também elevadíssimos. Pronto! Não há segredo! Basta esperar o cofre encher, uma vez que a estrutura do mercado oligopolizado e a complacência do órgão regulador fiscalizador são as garantias de ganhos contínuos, seguros e estrondosos.

Bancos e desigualdade socioeconômica
Apesar da divulgação recente dos dados relativos à melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), continuamos a ocupar posição de destaque no quesito “desigualdade social e econômica” no mundo contemporâneo, com nosso elevado grau de concentração da renda e da riqueza. E depois os órgãos de comunicação ainda vêm estampar com destaque as cenas de maior impacto nas manifestações, quando alguns grupos de jovens escolhem, a dedo, as agências dos bancos privados para ali descarregarem seu ódio e seu inconformismo com a injustiça e a desigualdade reinantes. Compreendo a reação de muitos que não concordam com esse tipo de depredação. “Vândalos!”, acusam, fazendo eco com a grande imprensa. Apesar de não eu considerar essa forma a mais adequada para lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, acho que devemos refletir, sem preconceito, a respeito das razões que têm levado a tal tipo de atitude.

Pois bem, então vamos ao dicionário:

vandalismo: “ato ou efeito de produzir estrago ou destruição de monumentos ou quaisquer bens públicos ou particulares, de atacar coisas belas ou valiosas, com o propósito de arruiná-las”.

O elemento simbólico que as instituições financeiras encerram é o da segregação e da inacessibilidade. Por mais que a circulação dos recursos monetários sob a forma de cédula tenha diminuído de forma significativa ao longo dos últimos anos, os bancos ostentam a expressão do dinheiro e do poder. É fato que dependemos do meio de circulação dinheiro para sobrevivermos na desordem social capitalista atual, mas quase não usamos mais o dinheiro em espécie. Isso significa que estamos completamente dependentes das instituições do sistema financeiro em nosso dia-a-dia.

A ação dos bancos em nossa sociedade se assemelha muito ao que define o Houaiss. Eles produzem grandes estragos em nosso patrimônio público e destroem muitos bens particulares. Basta pensar que quase a metade do Orçamento da União se destina a despesas com juros e serviços de rolagem da dívida pública. E os principais agentes beneficiários desse processo são as instituições do financismo. Com a política do superávit primário, a banca recebe tudo aquilo que o Estado deixa de gastar com saúde, educação, previdência e demais obrigações de natureza social. Há pouco tempo, o poderoso “lobby” patrocinado pela FEBRABAN conseguiu influenciar o Executivo e o Legislativo, aprovando uma série de mudanças na chamada Lei das Falências. Com isso, lograram introduzir dispositivos no texto qualificando as instituições financeiras como agentes credores prioritários em situações falimentares, à frente mesmo das dívidas trabalhistas e tributárias. Nada mais exemplar no que se refere a atacar coisas valiosas e arruiná-las.

Ação dos bancos: escandalosa e vergonhosa
Muitas pessoas condenavam os chamados “excessos” das manifestações realizadas em junho e julho. Eram mobilizações completamente inovadoras, na forma e no conteúdo. E que têm se pautado um pouco na linha de movimentos de além-mar, como “¡que se vayan todos!”, “¡indignados!” e “occupy Wall Street”. Esse sentimento dos 99% contra 1% identificava nos bancos a concretização da desigualdade. Nesse caso, a magnitude da opulência termina por se transformar no caldo de cultura para a violência. A ação provocadora dos agentes infiltrados e a repressão policial absurda operam como fagulha no combustível. E os que não concordavam com os atos mais violentos perpetrados contra as agências vazias, bradavam condenando os manifestantes: “Escândalo! Vergonha!”.

E aqui voltemos à busca da definição no dicionário:

escandaloso: “que serve de mau exemplo; que não tem decoro, decência; vergonhoso; deplorável”.

Ora, poucos elementos da nossa forma brasileira de organização em sociedade são mais característicos de algo “escandaloso” do que os bancos.

Definitivamente, não podem ser considerados como um bom exemplo de ação empresarial. A atitude dos bancos perante seus clientes - sejam indivíduos ou empresas - é tudo aquilo que se pode qualificar como indecorosa. Contando com a colaboração explícita das autoridades, em determinados momentos, ou apenas com a postura passiva dos órgãos reguladores, em outros casos, o fato é que o comportamento das instituições financeiras se enquadra bem no espírito da impunidade que caracteriza nosso jeito de ser e nosso ambiente sócio-cultural. Os bancos tudo podem e ponto final! Quem não estiver de acordo, que vá reclamar com o bispo!

As taxas e as tarifas que os bancos cobram de seus clientes ultrapassam em muito os limites da decência. Além dos “spreads” enormes, a banca fatura uma enormidade com as cobranças embutidas nos preços dos serviços que presta. A realidade é que as chamadas “facilidades da vida moderna” criam hábitos e generalizam procedimentos dos quais os bancos muito se beneficiam. Assim, por exemplo, são pouquíssimos os comerciantes que ainda resistem bravamente à utilização de cartões para pagamento de despesas em seus estabelecimentos. São obrigados a optar pela perda de parte da clientela, caso se recusem a pagar as taxas e aluguéis escorchantes cobrados pelas operações com a “maquininha”. Os salários e remunerações são creditados em conta corrente. E dá-lhe cartão transporte, cartão para refeições, cartão para compras no comércio, cartão de telefone celular e outros.

Depois do movimento iniciado pela Presidenta Dilma de redução da taxa SELIC em 2011, a fonte segura de ganhos dos bancos foi um tanto ameaçada.

Assim, entrou em operação uma estratégia de fortalecimento de outros meios de arrecadação de suas receitas. Os funcionários passaram a ser mais exigidos em suas investidas para “vender” produtos bancários correlatos, como seguros, títulos de capitalização, empréstimos, consórcios, cartões de crédito e outros itens que só comprometiam ainda mais a já frágil capacidade financeira dos indivíduos, empresas e famílias. Esse tipo de conduta passou a ser prática corrente inclusive nos bancos públicos. Essa investida terminou por aprofundar os riscos das operações de crédito no seu conjunto e agora começam a surgir os primeiros sinais inquietantes relativos aos elevados índices de inadimplência. Não há nada mais deplorável e vergonhoso do que ficar empurrando goela abaixo de pessoas e empresas esse tipo de mercadoria, a título de uma suposta contrapartida para um bom atendimento.

A lucratividade dos bancos tende a aumentar à medida que seus clientes apresentam dívidas e saldos devedores. Assim, o comportamento de tais instituições, que operam com recursos de terceiros, é de estimular ao máximo os indivíduos e as empresas a permanecerem no limite da insolvência, mas sempre lhes rendendo o máximo por seu saldo bancário estar negativo. Afinal, essa é a regra do jogo. Ora, quando assistimos a uma cena de um estabelecimento com seus vidros quebrados, alguém certamente vai logo reclamar: “mas estão espoliando o banco!”

Uma rápida consulta à nossa coleção de verbetes:

espoliação: “ato de privar alguém de algo que lhe pertence ou a que tem direito por meio de fraude ou violência; esbulho”.

Pois bem, um fenômeno que ganhou escala assustadora ao longo da última década foi o crescimento exponencial do chamado crédito consignado. O processo de incorporação de parcelas expressivas de nossa população a condição mínimas de cidadania foi acompanhado da chamada “inclusão bancária”. Ela veio no pacote mais amplo da inclusão social e da inclusão digital. Afinal, até os benefícios de bolsa família e da previdência social são vinculados a uma conta em instituição financeira. A esse potencial de recursos disponíveis, some-se o processo de proximidade a bens de consumo antes inacessíveis. O resultado foi o comprometimento quase absoluto dos limites de crédito por parte de pessoas que não tinham a menor familiaridade com as práticas do universo financeiro. Os chamados “consultores” dos bancos, ao invés de alertar para os riscos, são orientados a estimular o endividamento.

Uma verdadeira operação de fraude, por meio de violência velada, que vai terminar por privar famílias inteiras de algo que lhes pertence. Todos conhecemos as cenas tristemente famosas das operações de cobrança judicial de haveres financeiros não cumpridos. Esse, sim, o verdadeiro sentido da espoliação.

Banco: simbiose entre poder e dinheiro
Enfim, é por essas e muitas outras razões que se vê tanto ódio na juventude ao passar diante de uma agência bancária. Ela sintetiza simbolicamente tudo aquilo contra o que a sociedade tem se revoltado nesses últimos tempos, disputando a posição com a violência perpetrada pelas PMs pelo Brasil afora. O banco é a simbiose perfeita entre o poder e o dinheiro. E no seu rastro vem o repúdio ao sistema político hegemônico. “Tudo isso que está aí!”. “Não nos representam!”

O sistema financeiro, por suas próprias características, exige alto grau de fiscalização, controle e regulamentação para operar de forma adequada e não exploradora. E apenas o Estado pode cumprir esse tipo de papel, para evitar que um punhado de instituições continue a provocar tamanho prejuízo à maioria da sociedade, aprofundando o ainda vergonhoso patamar de desigualdades sociais e econômicas. Não se trata de retroceder a tempos anteriores ao avanço tecnológico, que deveria propiciar melhor qualidade de vida aos cidadãos. É possível construir um modelo onde a convivência de bancos públicos e privados cumpram essa função de intermediação, mas pautados pela ética e pelo compromisso com o bem comum. Sistema financeiro, sim. Mas sem vandalismo!

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

CASA GRANDE & SENZALA


Coronel em entrevista exclusiva ao Jornal Neoliberal diz ter medo de perder a "liberdade" de opressão.

Giuliano Quase


2 de agosto de 2013

CORPO MULHER VOLUNTÁRIO

O nosso escudo não é o Sagrado Coração de Jesus.
É o nosso corpo.
O nosso corpo não é um milagre. É desejo.
O nosso desejo não machuca. É gozo.
No nosso útero apenas nossa política, nossa fé & nossos poemas. Nosso corpo não se inclina para o nojento lamber de botas e para a cruz que mata: o estuprador não será pai.
Nossa certidão tem espasmos voluntários de um agricultor e de uma professora do Brasil.
A cidade está sendo recuperada. Seu corpo é maior e rígido. O Largo atravessa os sinos: o estuprador não será pai, gritamos.

Cecília Borges,




OPUS OPERA

Opusilânime
O governador é membro da Opus Dei Cacetada, Opus Dei Spray de Pimenta, Opus Dei Tiro de Borracha e da Opus Dei Bomba de Gás Lacrimogêneo. Depois de seu impeachment ele poderia fundar a Opus Dei Motivo, Opus Dei chilique, Opus Dei Mole, ou Opus Dei Azar. De todo modo, você já Opus Deu, Chuchu.
OpuSalmo
É Opus Dando que se recebe
OpuSamba
chegou a hora dessa gente diferenciada vândala e cheiradora de vinagre mostrar seu valor
Opusalada
a pergunta que não quer calar: voce é Pimenta ou Vinagre?
Opus Day
Se hay gobierno, soy…. Impeachment!
Já deu, picolé de chuchu.
OpuScience
agora é a PP “polícia pacífica” contra o VVV “violentos vândalos de vinagre” PP x VVV de que lado voce samba?
Opu S. O. S.
EXISTE PAVOR EM SP
Opus Ó pus
Geraldo Alckmin: pergunta aí como se diz impeachment em Francês.
Haddad: larga o camembert e pega o avião! Aqui tá Russo, Mano.
Opuscúlo
Será que agora a mídia vai dar a cara a tapa? Olho por olho de jornalista: quem é vândalo, os manifestantes ou a polícia?
*
OpusCopa
A Copa das Como fedem as ações

Beatriz Azevedo

DARK MEDIEVAL TIMES


(Para todos os corajosos vândalos do meu tempo)

os vândalos botaram vinagre na vã filosofia
botaram de volta a revolta na rua, poesia na poesia

ruído contra a oligarquia, a voz dos vândalos
perfuma o concreto, o asfalto, o tédio, o sândalo

o enfrentamento, o atrito, única resposta válida
ao mundo vago, gago, sombrio, reaça, cara pálida

(de dentro do apartamento o covarde alardeia
seu mimimi, sua burrice, cu na mão & pança cheia)

os vândalos sabem que tanto o preço da passagem
quanto a propriedade são uma imensa ladroagem

contra a bundamolismo do mundo funcionário
o caleidoscópico hálito dos carbonários

revolta, sangue & vinagre, não se perca de si
não se esqueça de si, não amoleça, a rua é logo ali

Fabiano Calixto

VINAGRE

Vinagre: uma antologia de poetas neobarracos, organizada pelos Vândalos, cruzou o mundo. A repercussão foi gigantesca, a poesia política com os dois pés na rua.

Os Vândalos agradecem todo apoio & divulgação.



Por uma poética de trincheiras & quebradas: nós, Os Vândalos, apresentamos a coletânea Vinagre: uma antologia de poetas neobarracos. Feita por todos. Este trabalho é um trabalho coletivo. A ideia inicial nasceu como gesto público de solidariedade a todos os movimentos de contestação que acontecem simultaneamente no Brasil (& também no mundo). Chamados de vândalos pela imprensa vendida, presos pela polícia por causa do vinagre que portávamos, estamos todos na batalha, na rua. Ação direta. Solidariedade & apoio mútuo.
Esta antologia é dedicada a todas as pessoas que participam de alguma maneira desse movimento de mudança. Até a vitória!

Os Vândalos

Baixe VINAGRE

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Adalberto do Carmo, Ademir Demarchi, Adriano Scandolara, Airton Souza, Alberto Lins Caldas, Alberto Pucheu, Alex Simões, Alexandre Guarnieri, Alexandre Lettner dos Santos, Alexandre Revoredo, Amandy González, Ana Lucia Silva, Anderson Lucarezi, André Fernandes, André Luiz Pinto, Andréa Catrópa, Baga Defente, Bárbara Lia, Beatriz Azevedo, Beto Cardoso, Bettto Kapettta, Bruno Gaudêncio, Bruno Latorre, Bruno Prado Lopes, Caetano Minuzzo, Caio Fernando, Camila do Valle, Camillo José, Cândido Rolim, Carina Castro, Carla Kinzo, Carlito Azevedo, Carlos Antonholi, Carlos Eduardo Marcos Bonfá, Carolina Tomasi, Cecília Borges, Chris Oliveira, Cide Piquet, Cinthia Kriemler, Cláudio Portella, Danielle Takase, Danilo Tobias, Davi Araújo, Denis Moreira da Costa, Diego de Sousa, Diego Vinhas, Dimitri Rebello, Diogo Mizael, Dirceu Villa, Domenico A. Coiro, Donizete Galvão, Dougla Souza, DuSanto, Edson Bueno de Camargo, Eduarda Rocha, Eduardo Sterzi, Elaine Pauvolid, Emmanuel Santiago, Érica Zíngano, Fabiano Calixto, Fabiano Fernandes Garcez, Fabiano Maffia Baião, Fábio Aristimunho Vargas, Fábio Gullo, Fabrício Corsaletti, Felippe Regazio, Flávio Corrêa de Mello, Fred Girauta, Gabriel Pedrosa, Geovani Doratiotto, Gigio Ferreira, Giuliano Quase, Graça Carpes, Guilherme Gontijo Flores, Guilherme Salla, Hélio Neri, Heyk Pimenta, Igor Alves, Israel Antonini, Ivan Antunes, Jeanne Callegari, Jessica Balbino, Jéssica Chelsea Cassiano Alves, João Campos Nunes, Jorge de Barros, José Antônio Cavalcanti, Jota Mombaça, Júlia de Carvalho Hansen, Julia Mendes, Juliana S. Müller, Jussara Salazar, Katerina Volcov, L. Rafael Nolli, Lara Amaral, Leandro Rafael Perez, Leandro Rodrigues, Leo Gonçalves, Leonardo Chioda, Lisa Alves, Lucas Bronzatto, Luciana Miranda Penna, Maiara Gouveia, Makely Ka, Mamede Jarouche, Marcelo Ariel, Marcelo Noah, Marcelo Sandmann, Márcio-André, Marco Cremasco, Marcos Visnadi, Marcus Oliveira, Mariela Mei, Maykson Sousa, Micheliny Verunschk, Nairana Melo, Nícollas Ranieri, Nina Rizzi, Nydia Bonetti, Orlando Lopes, Paula Corrêa, Paulo de Toledo, Pedro Marques, Pedro Tostes, Rafael Courtoisie, Raphael Gancz, Renan Inquérito, Renan Nuernberger, Renan Virgínio, Ricardo Domeneck, Ricardo Pedrosa Alves, Ricardo Rizzo, Rodrigo Garcia Lopes, Rodrigo Lobo Damasceno, Rodrigo Moreira Pinto, Roque Dalton, Rosana Banharoli, Rosane Carneiro, Rubens Guilherme Pesenti, Rubens Zárate, Sandra Santos, Sérgio Bernardo Correa, Silvana Tavano, Simone Brantes, Takeshi Ishihara, Tarsila Mercer De Souza, Thadeu C. Santos, Thiago Cervan, Thiago Galdino, Thiago Mattos, Tiago Cunha Fernandes, Tiago Pinheiro, Tito de Andréa, Vânia Borel, Waldo Motta, Walter Figueiredo, Wladimir Cazé & Zeca Lembaum

Por que você faz poesia?

(de uma entrevista de Joaquim com canção de Adriana)

para chatear os imbecis
para não ser aplaudido
para viver à beira do abismo
para correr o risco
para que conhecidos e desconhecidos se deliciem
porque ouvi "The Long an Winding Road"
para insultar os arrogantes e poderosos quando ficam como
cachorros dentro d´água no escuro do poema
porque de outro jeito a vida não vale a pena

Fabiano Calixto (do livro A canção do vendedor de pipocas)

Homem máquina

falo por poemas, falo por antíteses, falo por provérbios, por alicates (arrancando pregos), falo pelo fogo das línguas que me queimaram por todos estes anos

a poesia que me queima me queima quem eu sou & cospe minha alma nas palavras.

Eu te amo, eu te amo, eu te amo

Mas amo também o teu sexo, amo também o meu sexo, o falo que me diz

faço poesias de coisas feias e belas.

Nem só de pão vive o homem

Nem só de fé vive o homem

O homem esta máquina de viver, o homem esta máquina de morrer, o homem esta máquina de sofrer, o homem esta máquina de sonhar, o homem esta máquina de matar, o homem máquina de maquinar, o homem esta máquina de errar

eu erro e vago pelo texto, erro e vago pelo vão por onde entrei na tua vida, erro e parto, como quem chega, como quem volta, como quem morre...

Salvador Passos

Provérbios do Inferno

 
Na semeadura aprende, na colheita ensina, no inverno desfruta.

Conduz tua carroça e o arado sobre os ossos dos mortos.

O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

A prudência é uma solteirona rica e feia cortejada pela incapacidade.

Quem deseja e não age, procria a pestilência.

O verme perdoa o arado que o cortou.

Enterre-se no rio aquele que ama as águas.

Um tolo não vê a mesma árvore que um sábio vê.

O homem cuja face não brilha jamais se tornará um astro.

A Eternidade está de amores com as produções do tempo.

A abelha diligente não tem tempo para lástimas.

As horas da insensatez são medidas pelo relógio, mas as da sabedoria relógio algum pode marcar.

Todo alimento sadio se consegue sem armadilha ou rede.

Pássaro algum voa alto demais se o faz com as próprias asas,

Um corpo morto não refuta injúrias.

O ato mais sublime consiste em colocar alguém antes de si.

A Loucura é o manto da velhacaria.

A Vergonha é o manto do Orgulho.

As prisões são erguidas com as pedras da Lei e os Bordéis com os tijolos da Religião.

O orgulho do pavão é a glória de Deus.

A luxúria do bode é a generosidade de Deus.

A fúria do leão é a sabedoria de Deus.

A nudez da mulher é a obra de Deus.

O excesso de tristeza, ri; o excesso de alegria, chora.

O rugir dos leões, o uivar dos lobos, o estrondo do mar tempestuoso, e o gládio destruidor são porções de eternidade grandes demais para o olhar humano.

A raposa condena a armadilha, e não a si mesma.

Alegrias fecundam, tristezas procriam.

Que o homem use os despojos do leão e a mulher o tosão das ovelhas.

Ao pássaro o ninho, à aranha a teia, ao homem a amizade.

O tolo egoísta e sorridente & o tolo carrancudo e triste serão ambos considerados sábios se servirem de exemplo.

O que hoje está provado não passava ontem de imaginação.

O rato, o camundongo, a raposa, o coelho espreitam as raízes; o leão, o tigre, o cavalo, o elefante espreitam os frutos.

A cisterna contém: a fonte transborda.

Um pensamento enche a imensidade.

Fala sempre o que pensas e os vis te evitarão.

Tudo o que é crível é uma imagem da verdade.

A águia perdeu todo o seu tempo se deixando ensinar pela gralha.

A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão.

De manhã, pensa; de dia, age; de tarde, come; de noite, dorme.

Quem permite que o imponhas é porque te conhece.


Assim como o arado obedece a palavras, assim Deus recompensa as preces.

Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.

Espera veneno das águas paradas.

Só se sabe o que é bastante depois de se saber o que é demais.

Escuta a censura dos tolos! É um privilégio de reis!

Os olhos do fogo, as narinas do ar, a boca da água, a barba da terra.

O fraco em coragem é forte em astúcia.

A macieira nunca pergunta à faia como crescer, nem o leão ao cavalo como abater sua presa.

Quem recebe agradecido produz colheita abundante.

Se outros não tivessem sido tolos, nós é que o seríamos.

A alma do doce deleite jamais será maculada,

Quando vês uma Águia, vês uma porção do Gênio. Ergue tua cabeça!

Como a lagarta escolhe as folhas mais belas para lançar seus ovos, assim o padre lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.

Criar uma pequena flor exige o trabalho de séculos.

A blasfêmia, distende; a bênção, afrouxa.

O melhor vinho é o mais velho, a melhor água a mais nova.

As preces não aram! Os louvores não colhem.

As alegrias não riem! As tristezas não choram!

A cabeça Sublime, o coração Pathos, o sexo a Beleza, as mãos e os pés Proporção.

Assim como o ar ao pássaro e o mar ao peixe, seja o desprezo ao desprezível.

O corvo gostaria que tudo fosse preto, a coruja que tudo fosse branco.

Exuberância é Beleza.

Se o leão fosse aconselhado pela raposa, acabaria astuto.

O Progresso constrói estradas retas, mas as estradas tortuosas sem Progresso são os caminhos do Gênio.

Antes matar um infante no berço do que acalentar desejos reprimidos.

Onde o homem falta, a natureza é estéril.

A verdade não deve ser dita para ser apenas compreendida, e não acreditada.

Bastante! Ou demais

William Blake
Tradução de Ivo Barroso