A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

18 de junho de 2013

Fim de ato

Hoje a manifestação contou com MUITA gente na Rio Branco com todas as alas que um carnaval merece: dos partidos, dos black blocs, dos caras pintadas, dos nacionalistas, da fanfarra, dos observadores e assim por diante. Tudo muito cordial e pacífico. Não havia um único policial no percurso, ao menos fardado; no máximo em uma ou outra transversal e mesmo assim à distância. Nestes termos, nem fazia sentido ter conflito. A guinada na Santa Luzia, seguida por aquela na presidente Antônio Carlos mudou o clima. Os policiais, assim como os skinheads e black blocs, já se faziam presentes de forma ostensiva e a tática de confronto estava armada. Ao chegar na Alerj os policiais tinham fechado a escadaria e estavam a postos com carros na frente do prédio. Nos primeiros sinais de multidão próximo à Alerj veio o sinal de que havia algum script não declarado: as viaturas policiais partiram para outra esquina (sabe-se lá qual) com uma parte do contingente. E não voltaram até o fim da manifestação. Manteve-se apenas o cordão de isolamento com cerca de 80 policiais. A mim pareceu que o circo estava armado. Que já tinham combinado com os russos. A multidão chegou e junto com ela os ataques verbais. Dali para atirar os primeiros rojões no céu foram apenas alguns minutos. Dali para o ângulo em relação ao solo diminuir e mirar na escadaria foram segundos.

Momento em que bomba é disparada contra o grupo de policiais em frente à Alerj (Foto: Bruno Jenz Doria de Araujo/VC no G1)

Alguns policiais correram para dentro da Alerj, outros dispersaram pelas laterais e a multidão tomou conta do espaço.

Manifestantes entram em confronto com a PM em frente a Alerj (Foto: Pedro Kirilos/Agencia O Globo)
Logo depois os primeiros molotovs na escadaria.


Os policiais retribuíam de vez em quando com gás lacrimogênio e tiros mas eram milhares de pessoas na Antônio Carlos.


Houve uso de armas com munição letal e aparentemente dois manifestantes deram entrada em hospital com ferimento a bala letal.



Mas, a rigor, não havia o que a polícia fazer a não ser conter a entrada dos manifestantes na Alerj. O grupo de confronto direto era relativamente pequeno, algumas centenas talvez, mas milhares permaneciam à volta.

Dali pra frente a coisa só degringolou; dois carros queimados, ruas com lixos pegando fogo, vidraças quebradas, um grupo pequeno conseguiu invadir a Alerj, pessoas feridas com armas de fogo (não borracha). Apesar disso, mesmo a 100 m da escadaria o clima não era exatamente de caos ou pânico. Vez por outra tinha uma correria por conta de uma bomba de efeito moral, mas as pessoas circulavam livremente. O confronto direto era focado na porta da frente e na lateral do prédio, e depois incluiu a porta de trás da Alerj. A polícia esperou o número de manifestantes diminuir até por volta de 23:30, quando o batalhão de choque dispersou os remanescentes da frente da Alerj.

Conclusão: dessa vez os manifestantes (um grupo menor) começou o confronto. Era visível a quem acompanhava quem eram as pessoas. A polícia pouco revidou. Milhares se mantiveram no entorno por muito tempo, pacificamente. Por outro lado, nada aconteceu (em termos de violência) até a polícia se colocar no caminho da manifestação. Era óbvio o que iria acontecer se os policiais se mantivessem naquela posição. A saída estratégica de uma parte dos policiais, permanecendo apenas um contingente menor num cordão de isolamento da escadaria, me pareceu orquestrada. Não fazia sentido do ponto de vista de segurança do espaço público, nem do ponto de vista de mitigação de conflito, aquele pequeno contingente permanecer ali. Já estou no terreno da conjectura, mas como conjectura não faz mal a ninguém, parece que a tenda realmente está sendo armada para a lei anti-terrorismo. Afinal de contas, a Copa das Confederações é o evento teste para Copa do Mundo e Olimpíadas, inclusive para esquemas de segurança.

É possível que a sociedade do espetáculo esteja deixando o conforto da poltrona, mas esteja apenas mudando de mídia. Que esteja se tornando teatro a céu aberto. Aguardemos as cenas do próximo ato.

Fim de ato.

Exit stage left.

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