A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

17 de maio de 2013

batuque na calada


BATUQUE NA CALADA
batuque na calada
ela sai descalçada
nem pára na esquina
que me esqueceu
de chamar pra batucar
com ela camela
na calada daquela esquina
do ano passado
no carnaval que era
aquela época era
caramela
purpurina
serpentina
minha mina
agora sai descalçada
batuque na calada
esquininha
mamulenga
caçarola
girafuda
batuque na calada
batucada lavada em chão de botequim
não falou nada pra mim
passou que nem moitola
submarina
metrôla
sambando arrastando confete
pra cima dos outros
escaldada na madruga
dzi croquete
que drag rapá (fred mercuri)
batuque na calada descalçada
suada sebosa
saída da tuba
jocasta
gostosa
batuque na calada tem estudo
metida a estandarte
eu bamba no poste
me olhou de quina
fez fantasma
nem quis competir a fantasia
ela de nu, eu de gnu
ela de nu, eu de gnu
ela de nu, eu de gnu
ela de nu, eu de gnu
e ia
supimpa no pé
agredia minha nostalgia
arredia
vadia
e eu na esquininha do carnaval passado
pingando franga
espiando minha boa
bundiando com outro pileque
batuque na calada
fedorenta
descalçada
pra nem carinho
eu queria mesmo é ser cavaquinho
e tocar porco espinho
acorda moinho
cavalo mansinho
aquaman
vem a feira e vou a forra
nada me importa agora
eu sou de última aurora

Pedro Rocha

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