A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

8 de abril de 2013

Abaixo-assinado pede privatização do enterro de Thatcher


Uma petição ao governo britânico pede que o enterro de Margaret Thatcher seja privatizado. Trata-se, evidentemente, de uma sarcástica crítica a sua gestão (1979-1990).

Thatcher foi, com o general Augusto Pinochet, que governou o Chile de 1973 a também 1990, a grande defensora do neoliberalismo. Os dois foram o modelo do modelo que até hoje domina boa parte do debate econômico.

Muita gente questiona o prefixo “neo” à palavra liberal. Mas o que diferenciava ao “neo” do liberalismo clássico?  Sob o rótulo liberal, estavam identificadas uma série de políticas de respeito e proteção ao indivíduo. Algumas políticas liberais exigiam, inclusive, a participação do Estado, no sentido de “igualar os desiguais” – na educação pública, por exemplo.


No neoliberalismo, a grande função do Estado é garantir que a esfera econômica, exclusivamente, esteja livre para atuar. Ou seja, no novo liberalismo, longe de tentar, por vias tortas que fossem, igualar os desiguais, o papel do Estado é garantir que a desigualdade seja usada como instrumento econômico.

Por isso setores que namoram o socialismo (não, não estou falando de Obama) na esquerda americana aceitam o rótulo de “liberal”, enquanto um ditador com as mãos sujas de sangue como Pinochet é um neoliberal.

O caso do Chile é mais radical, mas Thatcher também ilustra bem esse poder de vida e de morte do Estado sobre o indivíduo, no sentido de preservar a “livre concorrência” dos fortes contra os fracos.

Privatizar um funeral significa levar às últimas consequências o neoliberalismo, ou seja, dizer simbolicamente que a sociedade não tem responsabilidade sobre a dignidade de ninguém, mesmo na morte. Foi essa lógica que Thatcher implementou no governo do Reino Unido e ajudou a exportar para o mundo a partir do momento que assumiu o posto de primeira-ministra.

Em 1981, Bobby Sands, um prisioneiro do IRA (Exército Republicano Irlandês), morreu após uma longa greve de fome, mesmo destino de outros nove companheiros. Sands havia sido eleito deputado, e, apesar da pressão internacional, Thatcher recusou-se a negociar com eles. Seu funeral foi acompanhado por 100 mil pessoas.

O funeral, público ou privado de Thatcher, vai conseguir reunir 100 mil carpideiras neoliberais?

Haroldo Ceravolo Sereza

Abaixo-assinado pede privatização do enterro de Thatcher

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