A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

1 de setembro de 2012

Houston we have a problem





do alto do universo
espera o cosmonauta
por outro buraco negro
espera que a massa entorte
o tempo do universo
não lê mais verso ou prosa
só lê os seus instrumentos
os lúcidos instrumentos
que medem o espaço tempo

não faltam-lhe mais amores
pois todos computadores
que sonham os sonhos dele
fornecem as doses certas
de impulsos eletro-eróticos
imprimem no cerebelo
volúpias que alimentam
orgásmicos apetites

silêncio no espaço é longo
quem dera ele escutasse
o peso da gravidade
quem dera ele lembrasse
do eco do verso morto

quem sabe chorasse aos prantos
se acaso ele lembrasse
no alto do espaço espaço
do peso do verso verso
gagueja o cosmonauta
pois ele não mais se lembra
do som da rima rica
nem mesmo da prima pobre
nem mesmo o eco ecoa
na eterna eternidade

as faltas já não lhe faltam
do alto da imensidão
já foram-se os deuses todos
já foram-se os sonhos tortos
restaram só instrumentos
só números que enumeram

do alto do espaço tempo
não restam mais as palavras
agora só falam todos
na língua dos telepatas
descrevem exatos nomes
que nem mais nomes são
são coisas que dizem coisas
exatas na exatidão
só falam na exata coisa
que é dita quando se fala
queria o cosmonauta
as coisas que nunca disse

do alto da lua salta
inédito o cosmonauta
tentando o suicídio
no vácuo da eternidade
coitado do cosmonauta
que para na vacuidade
do alto do seu suplício
esquece que a gravidade
não grava mais peso nele
esquece que o peso para
no alto do espaço morto
o homem não salta o salto
do espaço e do infinito
o homem é homem sempre
esquecem todos em Houston

Salvador Passos

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