A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

24 de agosto de 2012

pássaros

dizer é como um braço que se estica em direção ao horizonte
o não tocar destes dedos são palavras

busco com as palavras tocar coisas
mas nada cabe neste não tocar 

as palavras como pássaros podem tocar o céu por entre as asas do dizer
como um vento que sopra para além de algo
o horizonte está além desta mão esticada para o nunca

(sempre é tão nunca)
assim é tudo o que somos
tão tudo

tão pouco
Como entender isto que se passa tão além de tudo?
as palavras são como pássaros soltos no céu de nossos pensamentos
são os pássaros deste não entender
nos levam em vôos cada vez mais altos
voam para longe de tudo que somos

como tocar o mais além senão por intermédio das palavras?

as palavras encontram tão somente aquilo que mandamos que elas busquem
E desiludidas voltam ao seu ninho nos galhos de nós mesmos

Quem está na sombra disto tudo?

A poesia é a voz desta saudade

Salvador Passos

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