A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

30 de abril de 2012

tinha um poema no meio do caminho

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Dizer não tem função
digo o que digo pois me ocorre
não corro da ocorrência
é quase sempre assim
ocorro meio de repente
como um porre
mas não morro

o érre rola entre as letras,
trava a língua letárgica e mete a métrica no metro
a trema torta

não tema: teime

não tenha:deixe

o metro mede o erro certo
o que não erra
não acerta
pois de certo só a certeza do incerto
a seta certa no alvo acerta o erro bem na mosca
e deixa a deixa exata
o inseto certo
o incesto entre o erro e o acerto
solto dentro deste gesto insone
neste "S.O.S"
de não ser
o reto enredo envereda nas veredas do ser tão
     Ser
          Tão
                 POUCO
de tudo que se disse
nem um pouco deste muito já nos basta
o que basta é bosta
pois para quem entende a metade já é tudo
e o tudo é muito pouco....

nesta flecha
a força
da palavra segue
e acerta o fecho
mas não fecha o facho
há quem diga o dito
há quem o repita
o repique pica
havia um poema no meio do caminho
no meio do caminho tinha um poema
e o poeta em pedra
viu no metro a reta
e a pedra torta na palavra reta
tinha uma pedra no meio do poema
no meio do poema tinha uma pedra
e assim
com uma pedra abriu-se um caminho


Salvador Passos

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