A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

6 de março de 2012

Uma estação no Inferno

Oh! A ciência! Tudo se repete. Para o corpo e para a alma, - o
viático - temos a medicina e a filosofia, - os remédios das boas
mulheres e as canções populares apropriadas. E as distrações dos
príncipes e os jogos que eles interditam! Geografia, cosmografia,
mecânica, química ...
A ciência, a nova nobreza! O progresso. O mundo marcha. Por que
não havia de girar?
É a visão dos números. Vamos pata o Espírito. É certíssimo, este
oráculo, que eu faço. Compreendo, e não sabendo explicar-me sem
palavras pagãs, preferiria silenciar.
***
Retorna o sangue pagão! O Espírito está próximo; por que Cristo
não me ajuda, dando à minha alma nobreza e liberdade? Ai, o
Evangelho morreu. O Evangelho! O Evangelho.
Espero Deus avidamente. Sou de raça inferior por toda a eternidade.
Estou na praia armoricana. Que as cidades se iluminem à noite.
Minha jornada está realizada; abandono a Europa. A aragem
marinha queimar-me-á os pulmões; os climas perdidos tostar-me-ão.
Nadar, mordiscar ervas, caçar, fumar, sobretudo; beber licores fortes
como chumbo derretido, - qual faziam esses queridos antepassados
em volta do fogo
Retornarei com membros de aço, negra a epiderme, as pupilas
acesas: por minha máscara julgar-me-ão de um raça forte. Possuirei
ouro: serei ocioso e brutal. As mulheres cuidam destes ferozes
enfermos que regressam dos países quentes. Participarei dos
negócios políticos. Salvo.
Agora estou amaldiçoado, horroriza-me a pátria. O melhor é um
sono, completamente bêbado, na praia.

Trecho de uma Estação no Inferno Rimbaud

Nenhum comentário:

Postar um comentário