A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

13 de outubro de 2011

O momento político é da multidão

retirado de:


'‘O momento político é da multidão'’.
Entrevista especial com Giuseppe Cocco (em 15/06/2011)

O novo século trouxe consigo o início de uma forma de encarar o jogo político e econômico do mundo. Os anos 2000 foram marcados por movimentos como Oaxaca e Caracoles, no México; e Que se vayan todos, na Argentina. A segunda década do século XXI vê o nascimento de manifestações nos países andinos, árabes e europeus. Todos esses levantes muito diferentes dos movimentos dos anos 1960 e 1970. Para o professor Giuseppe Cocco, “hoje estamos em um mundo globalizado, onde não há mais modelos alternativos” e este não é o fim da história, como apontavam alguns estudiosos no passado. “Na realidade, estamos constatando que a história passou a se definir a partir das contradições que atravessam por dentro esse processo de unificação mundial dos mercados que é governado pela modulação da fragmentação e da heterogeneidade”, afirmou na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line.

Giuseppe Cocco possui graduação em Ciências Políticas pela Université de Paris VIII e pela Università degli Studi di Padova. É mestre em Ciências Tecnológicas e Sociedade pelo Conservatoire National des Arts et Métiers e em história social pela Université de Paris I (Pantheon-Sorbonne). Doutorou-se em História Social pela Université de Paris I (Pantheon-Sorbonne) e, atualmente, é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ. Publicou com Antonio Negri o livro Global: Biopoder e lutas em uma América Latina globalizada (Ed. Record, 2005). Também é autor de Mundobraz: O devir no mundo no Brasil e o Brasil no devir do mundo (Ed. Record, 2009).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – “Oaxaca” [1] e os “Caracoles” [2] no México, “Que se vayan todos” [3] na Argentina, o “Sumak Kawsay” [4] nos países andinos e agora "Puerta del Sol" [5] na Espanha. Qual é o recado desses movimentos para o mundo da política?

Giuseppe Cocco – O recado desses movimentos é explícito: "que se vayan todos!'. Não acreditamos mais
as formas tradicionais de representação, partidárias e/ou sindicais. Contudo, trata-se de movimentos e fases diferentes. "Puerta del Sol" aprendeu muito com a Praça Tahrir [6], com as revoluções árabes do Egito, da Tunísia, da Síria e, nesse sentido, foi uma renovação para além das importantíssimas experiências que foram (e, por vezes, ainda são) o movimento neozapatista mexicano [7] da década de 1990 e a insurreição destituinte argentina do início dessa primeira década do novo milênio.

Um outro "recado" muito presente na atual situação de restauração reacionária no Ministério da Cultura – MinC do governo Dilma é que o trabalho das redes, a cultura digital que a Ministra Ana de Hollanda vê como um estorvo juvenil, constitui uma realidade social, econômica e política potentíssima. A base do movimento da multidão na Espanha é o movimento em rede de protesto contra Lei Sinde [8] de criminalização do trabalho colaborativo. O PT conseguiu colocar alguém muito ruim no MinC: passou-se a defender a cultura de "alta" (sic) qualidade, o artista "soberano" e uma estrutura legal e de fiscalização dos direitos autorais que levou, por exemplo, ao fechamento autoritário do estabelecimento de fotocópias (xerox) da Escola de Serviço Social da UFRJ (usadas pelos estudantes pobres). Não dá nem para acreditar. Ora, o movimento de contestação ao MinC tem como maior espaço e instrumentos as redes e é a base, por exemplo, da mobilização da Marcha Nacional pela Liberdade.

IHU On-Line – Como analisa o momento político em que esses movimentos se levantam na Europa e no norte da África?

Giuseppe Cocco – Poderíamos dar uma resposta poética e dizer que estamos diante de uma dinâmica do Sul, Sol, Sal. O Sal do Mediterrâneo e de suas revoluções árabes é a referência de Sol, a Puerta del Sol em direção à Europa e reverbera na América do Sul. Logo, aqui no Brasil onde a Marcha da Liberdade (que houve em São Paulo no dia 10 de junho e que está programada nacionalmente para 18 de junho) articula antropofagicamente com os movimentos libertários (a "marcha da maconha") e com a multidão nas praças espanholas, do movimento de 15 de maio (#15M).

O momento político é da multidão: entre os tumultos e processos de construção do comum. Por um lado, os tumultos democráticos:
em Roma, quando no dia 14 de dezembro de 2010 milhares de jovens tentaram assaltar o Parlamento depois do voto de confiança ao decadente sistema político institucional bem representado por Berlusconi;
em Paris, com as greves metropolitanas realizadas contra os cortes na previdência;
em Londres, nas manifestações estudantis contra a privatização do ensino superior;
no Brasil, com o motim dos 20 mil operários da barragem de Jirau, a greve de mais de 30 dias dos operários da Volks do Paraná, a heroica resistência dos moradores cariocas contra as remoções de favelas planejadas pela prefeitura do Rio de Janeiro e realizadas pela Secretaria Municipal de Habitação e o movimento sensacional de greve metropolitana dos bombeiros nesses mesmos dias de junho.

Por outro lado, a multidão do Egito, da Tunísia e da Espanha que consegue articular, na relação recíproca de redes e praças, as lutas destituintes com processos constituintes nos quais o "comum" (a relação entre redes e praças) aparece em espiral e como princípio e resultado ao mesmo tempo.

IHU On-Line – Quais as diferenças entre esses movimentos de hoje em relação àqueles das décadas de 1960 e 1970, seja na América Latina ou na Europa?

Giuseppe Cocco – Entre esses movimentos da segunda década do novo século e os do final dos 1960, início dos 1970, há muitas diferenças. Podemos apontar três que me parecem ser as mais importantes.

1) Em meados do século XX, o mundo era marcado pelas convulsões das guerras e revoluções e estava dividido em dois grandes polos imperialistas que funcionavam como modelo na luta social, política e ideológica que travavam entre si (no marco da "Guerra Fria") ou que os "povos" que lutavam pela descolonização tramavam com eles.

Se, por um lado, os movimentos de 1968 atravessam os muros dessa bipolaridade, indo de Paris para Praga e de Roma para Varsóvia, eles continuavam atravessados pelas clivagens ideológicas que encerravam nas escolhas estreitas entre "americanismo" e "sovietismo", entre capitalismo keynesiano e keynesianismo socialista. Havia sempre a ideia de que existia uma desconexão possível, um modelo para onde ir ou a ser adotado. As guerras neocoloniais que as decadentes potências europeias impunham aos povos do "terceiro mundo" (Coreia, Vietnã) extremavam essa polarização, obrigando-os a escolher entre o primeiro mundo (do imperialismo ocidental) e o segundo mundo (do socialismo real hegemonizado pela União Soviética).

Hoje, estamos em um mundo globalizado em que não há mais modelos alternativos. Fukuyama [9] dizia que isso significava o fim da história. Na realidade, estamos constatando que a história passou a se definir a partir das contradições que atravessam por dentro esse processo de unificação mundial dos mercados que é governado pela modulação da fragmentação e da heterogeneidade.

2) O movimento de Maio de 1968 constituiu-se no auge do longo período de crescimento conhecido como fordismo e, muitas vezes, é definido como os das "três décadas gloriosas". O movimento dos anos 1970, na junção das lutas dos novos sujeitos (estudantes, mulheres, minorias) com a recusa operária do trabalho taylorista, acabou tornando-se no maior determinante da crise do Estado do bem-estar social e das reestruturações que levou o mundo, no plano sociopolítico, à contrarrevolução neoliberal de 1980. Já no plano econômico-industrial, levou ao duplo processo de automação das grandes plantas industriais e à descentralização da produção, o processo que levará ao capitalismo global e financeirizado.

Os movimentos atuais são aqueles que explodiram com as revoluções árabes e passaram para as praças espanholas. Eles acontecem dentro da maior crise sistêmica da economia global, comparável àquela de 1929 e da qual tinha "nascido" a regulação keynesiano-fordista. Podemos dizer, portanto, quer os movimentos atuais estão numa crise de crescimento do regime de acumulação pós-industrial.

3) A composição de classe da década de 1970 ainda era marcada pela presença de um forte operariado industrial, embora a iniciativa de luta já tivesse se transferido para as figuras massificadas do cognitariado (os estudantes) e do trabalho reprodutivo (as feministas). Hoje, diante de uma composição sociológica do trabalho extremamente fragmentada e heterogênea, o novo ciclo de lutas indica uma composição geral do trabalho imaterial e cognitivo que constitui o elemento comum dentro das praças e das redes; não apenas da Espanha, mas também do Egito, da Tunísia, da Síria, do Brasil.

Esses movimentos indicam momentos potentíssimos de recomposição da multidão do trabalho imaterial. Nessas lutas, a fragmentação é transformada na cooperação entre singularidades. No fazer-se da multidão desenhado por essas lutas, o estado de exceção não é mais, de maneira nenhuma, aquele decretado pelo poder soberano, assim como diz a teologia política de Agamben [10]. O estado de exceção é a democracia dos muitos, a democracia radical que marcha na rua, nas assembleias e nas redes, na recusa da violência, que no caso árabe mostra uma incrível resistência ontológica mesmo diante da repressão mais brutal. A vida nua dos pobres (a multidão árabe, os precários espanhóis, os favelados cariocas, os índios do Xingu) aparece como potência de criação e não como suspensão da política. O pobre é o ponto de partida de uma libertação que volta a ser um começo e não um fim.


IHU On-Line – Qual é a relação possível desses movimentos da América Latina e da Europa com as revoltas democratizantes no mundo árabe?

Giuseppe Cocco – A relação já aparece na multiplicação das lutas aqui no Brasil e indica-nos que a governança da chamada "classe C" já está se esgotando. Não é uma nova camada de consumidores, mas uma nova composição do trabalho que está se constituindo. Só que esse trabalho é múltiplo: ele vai dos operários da Volks que lutam contra o rentismo do capital à luta aos camponeses pobres e os índios que se opõem ao código florestal, ao agronegócio e à construção do complexo hidrelétrico de Belo Monte, da luta dos bombeiros às resistência dos moradores do Rio de Janeiro. São todas lutas biopolíticas, biolutas. Ou seja, lutas que acontecem no terreno da bioprodução que mistura cultura e natureza, tempo de vida e tempo de trabalho.

IHU On-Line – Na Espanha, esses movimentos resultaram na eleição e no retorno da direita. Como o senhor vê isso?

Giuseppe Cocco – A vitória da direita na Espanha não é resultado dos movimentos, mas da crise e da gestão da crise pelos socialistas com base na chantagem e no poder das finanças globais. O que o movimento do #15M conseguiu fazer foi, ao contrário, o milagre de esvaziar o conteúdo dessa vitória eleitoral da direita e romper o impasse criado por uma esquerda que cessou de ser "esquerda". A vitória da direita sobre a esquerda institucional se tornou, mesmo antes de acontecer, algo de limitado, deslegitimado, paralisado.

IHU On-Line – Como podemos analisar os partidos de esquerda atuais?

Giuseppe Cocco – É evidente que, na crise, os partidos de esquerda estão cada vez mais perdendo fôlego, até o ponto de levar com eles a própria noção de "esquerda". Na Itália, por exemplo, apesar de uma direita grotesca, xenófoba e fascista, a esquerda tem praticamente desaparecido: a recente bela vitória de "esquerda" em Milão – com Pisapia [11] – se fez apesar do Partido Democrático e por meio da mobilização horizontal em torno de uma figura política independente oriunda das lutas dos anos 1970 (oriunda daquelas lutas que continham também o drama do Battisti).

Na Espanha, o Partido Socialista Operário Espanhol – PSOE desperdiçou um enorme capital herdado das mobilizações espontâneas que o levaram ao poder em 2004, aplicou as receitas neoliberais e, pior, as mesmas leis reacionárias de cerceamento da liberdade das redes (a Lei Sinde). Nos Estados Unidos, o próprio Obama já desperdiçou o capital de mobilização democrática que o levou ao poder e está segurando "pela direita": a guerra contra o terror. A mesma coisa aconteceu na Inglaterra, em Portugal e na Grécia.

Os governos progressistas da América do Sul não estão isentos desse processo. O pior caso é o da Venezuela e é curioso de constatar como um certo esquerdismo o tinha avaliado como o mais radical. Chávez está se mostrando ao contrário como a experiência mais limitada e autoritária, onde o autoritarismo e a fé no "estado" preenche o vazio de uma mobilização popular que nunca conseguiu afirmar sua autonomia diante da burguesia tradicional e agora da "boligurguesia" oriunda do Exército.

Na Bolívia de Evo acontece o mesmo. O gasolinaço rompeu a relação entre o governo e os movimentos, a começar por sua base mais organizada, a grande favela indígena de El Alto. As ambiguidades ricas do processo constituinte, entre nacionalismo econômico e plur-nacionalismo cultural, estão se esgotando. O Brasil de Lula apareceu, com toda sua moderação, como a experiência mais rica e aberta ao terreno da constituição democrática. Os primeiros meses do governo Dilma também indicam a mesma direção, mas com uma série de sinais preocupantes, de fechamento e redução. Não se trata de algo que depende apenas da presidenta, mas também do esgotamento dos sinais já presentes no governo anterior.

Por um lado, a macroeconomia aparece sempre presa de sua armadilha letal, entre inflação dos preços e inflação dos juros. Pelo outro lado, o governo parece querer resolver as "ambiguidades e brechas" que caracterizam uma série de políticas públicas como inovadoras na pior direção. Em termos gerais, em vez de apostar na mobilização social, parece acreditar nas técnicas de "gestão". De maneira mais específica: o Bolsa Família, ao invés de amadurecer em direção a uma política de renda mínima universal assume cada vez mais a tonalidade de uma política social-liberal de erradicação da extrema pobreza assumida como fenômeno "multidimensional" e, ao mesmo tempo, separado do outro fenômeno correlato que é a concentração de riqueza nas mãos dos ricos.

As políticas culturais extremamente inovadoras são destruídas em nome de uma incrível restauração reacionária e inculta (o que não deixa de ser um paradoxo irônico) de um conceito de "alta" cultura. De uma maneira, reafirma-se grotescamente a lógica proprietária (copyright) e, no entanto, também reduzem-se as políticas públicas ao acesso. Um ministério ocupado por "incultos" quer levar a "alta" cultura aos pobres que sua indigência política e teórica lhe faz supor que são "incultos". Pior, a inovação de pensar as dimensões culturais da economia (e do valor) é eliminada e rearticulada pelo avesso, com a importação fora de época do modelo britânico das economias criativas, para voltar a pensar a cultura desde o ponto de vista econômico. O Programa Cultura Viva se torna a morte da cultura, pois os pontos de cultura serão assim padronizados até virar algo como "telecursos" e a maior parte do orçamento do MinC irá para construir "pracinhas" culturais pré-moldadas (para os pobres).

No meio disso, o PT participa como é o caso do Rio de Janeiro de alianças com o PMDB em governos locais abertamente reacionários. Assim, no momento que o PT e o governo precisassem chamar para uma mobilização social que lhe proporcionasse mais força diante das pressões e chantagens do PMDB sobre a governabilidade nacional (vide o caso Palocci), a ligação com os jovens e com as redes já estaria perdida. Além disso, o PT do RJ está envolvido em políticas reacionárias de remoções de favelas ao passo que o governador do estado, feito um Imperador de Operetta, usa a prisão para reprimir a plebe amotinada dos bombeiros. Portanto, o PT se tornou um conjunto de mandatos, burocratizados e unicamente preocupados em sua reprodução econômica. A sorte é que há algumas realidades onde isso ainda não aconteceu nesses mesmos termos, como é o feliz caso do Rio Grande do Sul.

A reafirmação da "esquerda" está, pois, nas mãos dos movimentos sociais e depende da capacidade que eles terão de atravessar os partidos. Parece-me evidente, porém, que os movimentos não cabem mais na atual forma (a de partido) e teremos que reinventá-la. Como? Ainda não sabemos, mas não é a reforma política que resolverá. A solução não é um "outro" partido "mais puro". Mas uma outra dinâmica, na qual a representação seja, ao mesmo tempo, reinventada e subordinada a novos processos participativos. Por exemplo, no Rio de Janeiro, os melhores mandatos (independentemente dos partidos) deveriam coalizar-se a partir de uma nova métrica, aquela das lutas, da biolutas.

Notas:

[1] Desde maio de 2006, o povo do estado de Oaxaca, México, vive dias de insurreição e organização popular por melhores condições sociais. Em contrapartida, também é o cenário de um estado de violência e repressão política, que já resultou em muitos feridos e mortos. O início deste processo data de 22 de maio, durante manifestações de professores que exigiam aumentos salariais e melhores condições de ensino, entre elas uma marcha de 70 mil pessoas. Em resposta à reivindicação da categoria, o governador Ulises Ruiz Ortiz adotou a tática da repressão contra os professores. No dia 14 de junho, a polícia desempenhou uma ação contra os manifestantes que acampavam no centro da cidade de Oaxaca. A ação policial causou indignação no povo de Oaxaca. Camponeses, indígenas e diversos outros setores da sociedade aderiram aos protestos. A partir daí, foi formada a Assembleia Popular dos Povos de Oaxaca APPO que reivindica que Oxaca seja gerida pelo próprio povo, através de assembleias populares.

[2] Em agosto de 2003 foram inaugurados no México “los Caracoles” que representam a territorialidade dos povos indígenas de Chiapas, sob a bandeira do Exército Zapatista de Libertação Nacional em prol de suas autonomias. São considerados agrupamentos solidários de municípios autônomos, sem o abrigo dos marcos legais mexicanos. Por isso, são considerados instituições paralelas, também chamados de “municípios autônomos rebelados”.

[3] O movimento "Que se vayan todos" começou com a crise econômica argentina que afetou a economia do país durante a década de 1990 e início da década de 2000. As manifestações em devorrência do problema financeiro inauguraram um novo ciclo político e de lutas na história do país.

[4] O Sumak Kawsay, ou Bem-Viver, para os índios andinos, é a expressão de uma retomada de um horizonte de vida almejado por esses povos há milhares de anos. O movimento não contou com nenhum tipo de organização a priori, nem com a participação dos atores políticos tradicionais. Não houve autor nem promotor, mas sim uma multitudinária, aberta, desorganizada e espontânea presença de sujeitos "desobedientes" manifestando seu direito de resistir.

[5] Puerta del Sol é um dos locais mais famosos e concorridos da cidade espanhola de Madrid. Desde o dia 15 de maio, jovens universitários espanhóis se reunem nessa praça, organizados via redes sociais, para contestar as dificuldades que a crise econômica trouxe ao país, como desemprego e baixos salários. As manifestações começaram no dia 15 de maio e até hoje alguns manifestantes seguem acampados na praça. As manifestações estão sendo chamadas de Revolução Espanhola e converteram os protesto de maio de 2011 e a Praça Puerta del Sol num símbolo de luta por mudanças políticas e sociais no país.

[6] Praça Tahrir (Praça da libertação) é a maior praça pública no centro de Cairo, Egito. A Praça Tahrir foi local de diversos protestos ao longo dos anos, como as Revoltas do Pão em 1977 e os protestos em março de 2003 contra a Guerra do Iraque. Em janeiro de 2011, a Praça Tahrir foi o ponto focal da revolta contra o presidente egípcio Hosni Mubarak. Cerca de 15 mil pessoas tomaram o local e estima-se que em torno de 250 mil pessoas tenham participado das manifestações no dia 31 de janeiro. No dia 1º de fevereiro foi convocada uma "Marcha de um Milhão" para ocupar a praça Tahrir. A rede de TV Al Jazeera estima que mais de 2 milhões de pessoas estavam na praça no início das manifestações.

Em 11 de fevereiro de 2011, depois de 30 anos, Hosni Mubarak renuncia ao poder. A Praça Tahrir, palco das manifestações que ensejaram a queda da governo, vira cenário em que milhares de egípcios comemoram o desfecho da revolta.

[7] O movimento neozapatista trata-se de um grupo de indígenas do sul do México que têm apoio de diversos intelectuais e que apareceu ao se rebelar contra os acordos do Nafta que prejudicaria muito os pequenos camponses e índios. Tudo começou no estado sulista de Chiapas em 2004. São representados pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional EZLN.

[8] Lei Sinde é considerada à similar à Lei Hadopi francesa que visa desconectar da internet quem fizer downloads ilegais. A lei ainda pretende fechar sítios de download de conteúdos ilegais protegidos por direitos autorais. A nova lei inclui a criação da Comissão de Propriedade Intelectual que será a responsável por examinar as denúncias contra páginas na internet. O Congresso espanhol aprovou esta lei no dia 15 de fevereiro deste ano.

[9] Yoshihiro Francis Fukuyama é um filósofo e economista político nipo-estadunidense. Figura-chave e um dos ideólogos do governo Reagan, Fukuyama é uma importante figura do neoconservadorismo.

[10] Giorgio Agamben um filósofo italiano, autor de várias obras que percorrem temas que vão da estética à política. Seus trabalhos mais conhecidos incluem sua investigação sobre os conceitos de estado de exceção e homo sacer. Responsável pela edição italiana das obras completas de Walter Benjamin, ex-aluno de Heidegger e autor, juntamente com Deleuze, de trabalhos sobre teoria literária e filosofia, sua contribuição para o pensamento político tem-se revelado muito significativa, sobretudo no âmbito da reflexão biopolítica.

[11] Giuliano Pisapia é advogado e político italiano. Foi eleito prefeito de Milão em junho de 2011. Era o candidato de centro-esquerda e sua eleição representou uma derrota para a direita italiana, uma vez que a cidade é a capital econômica da Itália e reduto eleitoral de Silvio Berlusconi.

Para ler mais:

O Complexo do Alemão e as mudanças na relação entre capitalismo mafioso e capitalismo ''cognitivo''. Entrevista especial com Giuseppe Cocco

Tahrir no Cairo, Del Sol em Madri. A primavera e o Outono

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