A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

21 de julho de 2011

Não voltar para cá

Sem rumo no nada do dia
Sem rota no nada da noite
Sem nada no nada do pouco
Nadando no nada das horas

No mundo sem luto
No mundo sem rito
No mundo sem fuso

Seguir sem rumo é ter rumo
Seguir sem prumo é ter prumo

Queria ser alguém que é ninguém

Melhor seria ter grito
Que este silêncio cinzento

Melhor seria ter vulto
Que esse sorriso sem jeito

Vai pelas ruas bebendo
Cantando, gritando e pulando
Vai pelas ruas perdendo
o tudo que pensa que tem
Pois nada é tudo que temos
E ter não é tudo a fazer

Vai caindo dentro de tudo
Morrendo dentro do copo
Calando dentro da noite
Com seu silêncio inquieto
Falando do mundo que bate
Na cara de quem é sofrido
Mas que apesar deste golpe
Galopa no passos dos becos
Vagando no mundo desmundo

O mundo trancado no quarto
Só serve pra não dizer
Vai vagando nas ruas sem volta
Que não precisa voltar
Pois se é pra dizer nada
De nada adianta voltar
Segue seu passo no mundo
Que este de cá já não vai
Vai pelos lados de lá
E trás não voltar para cá

Raimundo Beato

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