A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

4 de julho de 2011

O mais além é logo ali

Dia nasce no leste, morre no oeste, e eu onde nasço e morro? Em algum morro carioca? Em algum bairro sem norte? Em que laço travo? E o sistema tem travas, ou apenas vaga no insone leste sempre oeste deste sono sem sonho? Que sonho se todas as utopias foram consumidas e vendidas a exaustão? O mercado é enfim a utopia fim? Só se for o fim de tudo, pois se utopia é o mais além, o nunca estar, então o tudo compra o tudo vende (sempre) do mercado entrega em casa a última utopia, não como final mas como catástrofe, o delivery do nunca, o não lugar que nunca está, de tanto pranto, de tanto compro, de tanto vendo, o cinza sempre, da venda troca, esgotou a idéia do mais além. Cansou o sonho da liberdade? Eis que neste ato só nos resta o vazio vago de vagar a esmo de nos mesmos. Que palavra vaga na liberdade plena do não há? Há quem seja sorte, há quem seja morte, há quem enseja o ser ou venere a morte venérea das curvas, a morte dura do tempo, do templo, da carne e do verbo, é o fim, a ruína do tudo, de modo que só resta o resto, o não ser, o silêncio dos sonhos, da alma, da fé, da fala que cala, cala tudo que não diz, cessa tudo que não parte, norte tudo que não sul, o sul é seu, sou eu, soul meu, tudo é falta, tudo é descrença de cada um, um de nós é o enfim fim de todos, todos somos cada ou cada um é todos? Só sendo assim seremos

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