A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

20 de junho de 2011

As coisas e as palavras

As coisas são somente coisas
O céu apenas céu
e não um véu
de alguma outra coisa mais

As estrelas são somente estrelas
e não as freiras eternas de alguma outra via
ou constelação

As flores são apenas flores
e não as penitentes convictas de um só dia

Tudo o que há é só céu, estrela e flor
Como se todas estas coisas fossem apenas céu, estrela e flor
e não as palavras céu, estrela e flor
Como se este sentir azul que vem do céu
não surgisse do próprio céu
Como se este céu, pelo simples fato de ser céu,
não fosse alguma outra coisa
que não apenas coisa

(que não apenas céu)

De onde vem este sentir azul do céu que não está nem na palavra azul nem na palavra céu?

De onde vem
Esta dor na flor?
Este brilho na estrela?
Este azul no céu?

Se estrelas são tão somente estrelas
e o brilho é tão somente um brilho
o que é que brilha afinal?

a estrela coisa
ou a palavra estrela?

o que há de comum entre todas estas coisas que são apenas coisas?
seriam elas mais
que só palavras num poema?
seriam elas mais
que algum antigo lema?

elas existem além de mim
e eu existo aquém delas

Mas quem esta aquém de quem?

As coisas, que são apenas coisas,
ou as palavras, que são só palavras
e tentam dizer coisas que não são além de coisas

As palavras são coisas
que querem dizer coisas
além das coisas

As palavras estão aquém pois tentam ir além

Salvador Passos

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