A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

29 de dezembro de 2010

"Sonho que se sonha só"

Sem Título



Paulo Leminski

Publicado originalmente na revista “invenção” 4 dez 1964,
reproduzida no livro (1980).

Ode à imbecilidade

Se algum dia rolarem 
lágrimas rubras de sangue
da rutila carne de teus olhos

E as pálpebras serrarem
como ameias da muralha
que guarnecem seus desejos vis

Não te percas no labirinto
pois não há escolhas certas

Faça dele uma reta
tão simples quanto certa
e de fronte ao fogo
persiga a miragem
que de ti se esconde

Mas se sem fim pareça
se de volta esteja
ao ponto da incerteza
ponha a máscara
do homem decido

O mundo lhe abraçará

Tomás Mais


Y Vienen los Imbeciles
Acrílico em tela

Proclamation Without Pretension

Estou aqui para complicar, não para esclarecer.


Proclamation Without Pretension

Art is going to sleep for a new world to be born
"ART"-parrot word-replaced by DADA,
PLESIOSAURUS, or handkerchief

The talent THAT CAN BE LEARNED makes the
poet a druggist TODAY the criticism
of balances no longer challenges with resemblances

Hypertrophic painters hyperaes-
theticized and hypnotized by the hyacinths
of the hypocritical-looking muezzins

Estou aqui para complicar, não para esclarecer.


CONSOLIDATE THE HARVEST OF EX-
ACT CALCULATIONS

Hypodrome of immortal guarantees: there is
no such thing as importance there is no transparence
or appearance

MUSICIANS SMASH YOUR INSTRUMENTS
BLIND MEN take the stage

THE SYRINGE is only for my understanding. I write because it is
natural exactly the way I piss the way I'm sick

ART NEEDS AN OPERATION

Art is a PRETENSION warmed by the
TIMIDITY of the urinary basin, the hysteria born
in THE STUDIO

We are in search of
the force that is direct pure sober
UNIQUE we are in search of NOTHING
we affirm the VITALITY of every IN-
STANT

the anti-philosophy of spontaneous acrobatics

At this moment I hate the man who whispers
before the intermission-eau de cologne-
sour theatre. THE JOYOUS WIND

If each man says the opposite it is because he is
right

Get ready for the action of the geyser of our blood
-submarine formation of transchromatic aero-
planes, cellular metals numbered in
the flight of images

above the rules of the
and its control

BEAUTIFUL

It is not for the sawed-off imps
who still worship their navel

Tristan Tzara

A natureza esta certa!

28 de dezembro de 2010

Maggie's Farm

I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
No, I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
Well, I wake in the morning
Fold my hands and pray for rain
I got a head full of ideas
That are drivin’ me insane
It’s a shame the way she makes me scrub the floor
I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more

I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more
Well, he hands you a nickel
He hands you a dime
He asks you with a grin
If you’re havin’ a good time
Then he fines you every time you slam the door
I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more

I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more
Well, he puts his cigar
Out in your face just for kicks
His bedroom window
It is made out of bricks
The National Guard stands around his door
Ah, I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more

I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more
Well, she talks to all the servants
About man and God and law
Everybody says
She’s the brains behind pa
She’s sixty-eight, but she says she’s twenty-four
I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more

I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
No, I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
Well, I try my best
To be just like I am
But everybody wants you
To be just like them
They sing while you slave and I just get bored
I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more

Bob Dylan

The Return of the Sith



I say again that, because we don't expect to overthrow governments, abolish world capitalism, make civilization vanish, turn everyone in the world into walking buddhas, or cure all social and economic ills, we don't have to wait for anything. If ten people walk beyound civilization and build a new sort of life for themselves, then those ten are already living in the next paradigm, from the first day. They don't need the support of an organization. They don't need to belong to a party or a movement. They don't need new laws to be passed. They don't need permits. They don't need a constitution. They don't need tax-exempt status. For those ten, the revolution will already have succeeded. They probably should be prepared, however, for the outrage of their neighbors.


Daniel Quinn
Beyond Civilization (1999)

Civil Disobedience

How can a man be satisfied to entertain an opinion merely, and enjoy it? Is there any enjoyment in it, if his opinion is that he is aggrieved? If you are cheated out of a single dollar by your neighbor, you do not rest satisfied with knowing that you are cheated, or with saying that you are cheated, or even with petitioning him to pay you your due; but you take effectual steps at once to obtain the full amount, and see that you are never cheated again. Action from principle — the perception and the performance of right — changes things and relations; it is essentially revolutionary, and does not consist wholly with anything which was. It not only divides states and churches, it divides families; ay, it divides the individual, separating the diabolical in him from the divine.



Thoreau's Civil Disobedience, 1849






O Batuque

Vagas constelações de pirilampos
Ponteiam de oiro a densa noite escura.
Há um trágico silêncio na espessura
Dos matagais e na amplidão dos campos.

O batuque dos negros apavora.
Anda o saci nas moitas, vagabundo,
E almas penadas, almas do outro mundo,
Passam gemendo pela noite em fora.

Só, no ranchinho de sapé coberto,
Encosto o ouvido à taipa esburacada,
E ouço um curiango que soluça, perto...

Lambe a fogueira os últimos gravetos,
E pela noite rola, magoada,
A cantiga nostálgica dos pretos.




Joham Baptist Spix e Karl Friedrich Philipp von Martius * O Batuque em São Paulo * 1817

Ideologia e Utopia

[Nosso] estado de espírito é utópico porque, no pensamento e na prática, se orienta para objetos que não existem na situação real. Mas também porque transcende a realidade e, ao informar a conduta humana, tende a destruir, parcial ou totalmente, a ordem das coisas predominante no momento.
Karl Mannheim, 1958
Ideologia e Utopia

27 de dezembro de 2010

A caverna


Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Battre

Inversão de perspectiva

Um dia o senhor Keuner foi perguntado sobre o que ele queria dizer com 'inversão de perspectiva', e ele contou a seguinte história. Dois irmãos muito apegados um ao outro tinham uma mania curiosa. Marcavam com uma pedra os acontecimentos do dia, uma pedra branca para os momentos felizes, uma pedra preta para os instantes de infelicidade e desprazer. À noite, quando comparavam o conteúdo do jarro em que eles colocavam as pedras no final de cada dia, perceberam que um deles só continha pedras brancas, e o outro só continha pedras pretas. Intrigados por essa constância cm que vivam o mesmo destino de modo totalmente diferente, combinaram aconselhar-se com um homem famoso pela sabedora de suas palavras. 'Vocês não fala o bastante um com o outro', disse o sábio. 'Que cada um apresente os motivos da sua escolha e explique-os para o outro'. Assim fizeram desde então. Logo verificavam que o primeiro permanecia fiel às pedras brancas e o segundo às pedras pretas, mas em cada jarro havia diminuído o número de pedras. Em vez de trinta, só havia agora sete ou oito. Pouco tempo tinha se passado quando o sábio recebeu nova visita dos dois irmãos. Traziam no rosto os sinais de uma grande tristeza. 'Não faz muito tempo, disse um deles, o meu jarro ficava cheio de pedras de cor-da-noite, o desespero habitava-me permanentemente, confesso que estava reduzido a viver por inércia. Agora, raramente coloco lá mais que oito pedras, mas aquilo que representam esses oito sinais de miséria é tão intolerável para mim que já não posso viver em semelhante estado'. E o outro: 'Quanto a mim, todos os dias amontoava pedras brancas. Agora só conto sete ou oito , mas essas me fascinam tanto que não posso evocar esses instantes felizes sem que deseje imediatamente revivê-los com mais intensidade e, para dizer a verdade, eternamente. Esse desejo me atormenta'. O sábio sorria ao escutá-los. 'Excelente, excelente. Tudo está correndo bem. Continuem. Só mais uma palavra. Havendo oportunidade, perguntem-se: por que motivo nos apaixona tanto o jogo do jarro e das pedras?' Quando os dois irmãos encontraram de novo o sábio foi para declarar: 'Pensamos no assunto, mas não obtivemos resposta. Então perguntamos à aldeia inteira. E veja o alvoroço que causou. À noite, sentadas do lado de fora das casas, famílias inteiras discutem a respeito das pedras brancas e das pedras pretas. Só os chefes e os poderosos se mantêm afastados. Preta ou branca, uma pedra é uma pedra e todas valem o mesmo, dizem eles troçando'. O velho não escondia o contentamento. 'O caso segue o curso previsto. Não se preocupem. Não tardará que a questão deixe de se pôr. Ela se tornou desprovida de importância e chegará o dia em que duvidareis de que algum dias as tenhais levantado'. Pouco depois, as previsões do velho foram confirmadas do seguinte modo. Uma grande alegria tinha se apoderado das pessoas da aldeia. Na madrugada de uma noite agitada, o sol iluminou, empaladas e separadas do corpo, as cabeças recentemente cortadas dos poderosos e dos chefes.

Raoul Vaneigem,
A arte de viver para as novas gerações.

Manifesto of the Phantom Tree Planters

Planting trees opens our hearts to Nature's wisdom. Nurturing them gives exposure to life's vulnerability and teaches how to build ecological and human community.

We plant trees not for ourselves, but for those who will follow. Life gives unto life, and by dancing to its rhythms we can enjoy with clear conscience what has been handed down from the past.

Many people have never planted a tree because they think they do not own land This is mistaken. We are all children of the Earth. We share equally in the valleys, hills, rivers and seas. Let us no longer be deceived otherwise!

Phantom Treeplanters have no formal organisation, no joining fee, and only the Earth holds its membership list throughout time. To belong, simply plant a tree without expectation of material gain, help care for existing ones, or hold in your heart what they mean.

With due sensitivity, plant trees on any land and in any place where they have a chance of surviving. Do not be put off by feeling you always have to get permission. Nature sows without asking. You are part of nature. Reconstituting the world is a duty and a right which extends beyond legal concepts of land ownership.

You can buy suitable native species from nurseries. But better still, root a length of willow in a bottle or collect and sow seed from original local sources. Is it too long to wait for an acorn to grow? Maybe you do not need to live so fast that only instant results satisfy. Try starting some trees in a deep pot on the window ledge or dig up a stretch of lawn. Never mind if you cannot foresee where to transplant the seedlings. Grow them first. Life will work out the rest. when the time is right.

Do not worry too much about losses. Accept these as part of the process. Take heart that other treeplanters are also at work. What matters is not individual success or failure, but the overall process we share in.

Planting trees is about making love with the Earth. Phantom planting recreates wildness. So let us live and love wildly. Let us not be afraid to grow and change.

Let us celebrate - life itself.

An article from Do or Die Issue 5. In the paper edition, this article appears on page(s) 70.
http://www.eco-action.org/dod/index.html

23 de dezembro de 2010

Macacos e os Paradigmas







Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade

Samba de Classe Média



A cada primeiro sábado do mês, a quadra da escola de samba do morro Santa Marta, em Botafogo, tem sido lotada por um público novo - a maioria de cariocas que nunca estiveram na favela. O motivo é o evento "Morro de Alegria", promovido desde setembro por um bloco de carnaval da Zona Sul, o Spanta Neném.

De acordo com os organizadores, a última edição do evento teve os ingressos esgotados horas antes do início e atraiu cerca de mil pessoas.

Para Diogo Castelão, um dos dez integrantes do Spanta Neném, o sucesso de público na favela não seria possível sem a Unidade de Polícia Pacificadora (UPPs), implantada no morro Santa Marta há dois anos.

21 de dezembro de 2010

Oaxaca



November 10, 2006

The first question I´m usually asked these days is, "What made you decide to move from new Yorki City to Oaxaca, Mexico?"

This brings to mind some dialogue from the movie Casablanca:

Captain Louis Renault (Claude Rains):
- What in heaven´s name brought you to Casablanca?

Rick Blaine (Humphrey Bogart):
- My health. I came to Casablanca for the waters.

Captain:
- The waters? What waters? We´re in the desert!

Rick:
- I was misinformed.

My daughter, Emily, wife, Betty and I didn't move here July 2006, for the waters, but for a year-long sabbatical. What we didn't come for was an exploding political situation, but we got anyway.

Since may, the teachers of Oaxaca have been encamped in the town suqre (Zócalo). this striker has been an anual event for the last twenty-five years and usually lasted a couple weeksor until their demands for pay raises and funs for school were met. For the first time in the strike's history, the new governor, Ulises Ruíz Ortíz (URO), decided not to agree to their demands. Instead, on June 14th at 4:30 a.m, he sent in riot police in an attempt to forcibly expel them.

This attack completely backfired. Not only were the strikers not envicted, their demands and their numbers expanded. They were joined by a larger coalition of unions, the APPO (Asemblea popular de los Pueblos de Oaxaca) who declared the strike would not end unless governor Ulises stepped down.

Since then, tensions rose and fell with periodic police actions against strikers, but they didn't budge.

After more than 5 months of unrest, the xit hit the fan. On Friday October 27th the governor thugs attacked strikers, killing 3 teachers and an American journalist. this pressured Mexico's presidente into ordering federal troops into Oaxaca the next day.

The Policia Federal Preventiva (PFP), as the federal troops are called, attacked the strikers and took over the Zócalo. As of this writing the Zócalo is no longer an encampment of teachers, but has been replaced by an encampmet of military forces. The governor is refusing to leave office, even as pressure mounts from all sides, including from his party.

So our move has been everything we'd hoped for - barricades, mayhem and lots and lots of riot police, all trumped by every-thing else this adventure has to offer. Water or desert, Oaxaca remains a fantastic choice.

Peter Kuper

Primavera Nos Dentes

Quem tem consciência pra ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera

João Ricardo/João Apolinário

20 de dezembro de 2010

Para quando chegar a noite

Para quando chegar a noite

E a tristeza em toda parte

Para quando chegar a hora

E você já sem saber se é agora

Ou se foi apenas alarme falso

Para quando o cego a beira da estrada pedindo auxílio

E o poeta já sem palavras em seu delírio

Apenas cale

Para aqueles dias nublados

Cheios de nuvens e peso

Cheios de nada se arrastando

Para quando faltar o tom

Sobrar apenas som em vão

E você sem ir nem vir

Apenas entre no trem e veja pela janela estações ao acaso

Raimundo Beato

14 de dezembro de 2010

Exhaustion and Senile Utopia of the Coming European Insurrection

"Following the Greek crisis, the monetarist dogma has been strongly reinforced, as if more poison could act as an antidote.

(...)

In Paris, London, Barcelona, Rome, and Athens, massive demonstrations have erupted to protest the restrictive measures, but this movement is not going to stop the catastrophic aggression against social life, because the European Union is not a democracy, but a financial dictatorship whose politics are the result of unquestioned decision-making processes.

Peaceful demonstrations will not suffice to change the course of things and violent explosions will be too easily exploited by racists and criminals. A deep change in social perception and social lifestyle will compel a growing part of society to withdraw from the economic field, from the game of work and consumption. These people will abandon individual consumption to create new, enhanced forms of co-habitation, a village economy within the metropolis."

Franco Berardi Bifo

retirado de http://www.e-flux.com/journal/view/191

Balloon Girl

9 de dezembro de 2010

Metaformose *

Se meta foi
morfoussefoi
em fora foi
meta de dentro
meta de fora
afora fôra
metade onde?

nem dentro era
já não se era
se meta fosse
metamor fôra
amor se era
metamorfosse

se meta amor fosse
então
meter-se fosse
o metro nela
matar se era
morrer se nela
não rege
gera
regenegera
a fôrma forma
metamorforma

amor se fôra
morfosse fossa
na meta fora
me fosse fossa
em fossa sendo

me
ter
se fosse
me ser seria
mas já não era
metamorfoi

me ter amor
armar se fosse
a forma sendo

mestar me morfa
em nela sendo
a forma ao centro
nem dentro era
afora sendo
morfou-se ar
em vento fôra
em se se forma
formar se fora
em mar se firma

morfosear
em meta fora
já fora há
em meta forma?

metamorfoi

Salvador Passos

*título inspirado em Leminski

5 de dezembro de 2010

Descartes e o computador

Você pensa que pensa
ou sou eu quem pensa
que você pensa?

Você pensa o que eu penso
ou eu é que penso
o que você pensa?

Bem vamos deixar a questão em suspenso
enquanto você pensa se já pensa
e eu penso se ainda penso

José Paulo Paes

4 de dezembro de 2010

Ex isto


Ex Isto, mais novo trabalho de Cao Guimarães,o filme explora, de maneira bem livre e experimental o já experimental Catatau de Paulo Leminski.



O catatau de linguagens de Paulo Leminski

http://unisinos.br/blog/ihu/2009/06/26/o-catatau-de-linguagens-de-paulo-leminski/

Por André Dick

O “romance-ideia” Catatau, que ocupou nove anos da vida de Paulo Leminski, de 1966 a 1974, foi lançado primeiramente em 1975. Do trio Noigandres (Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos), lembrado na dedicatória, Leminski não chegou a ver nenhum texto escrito em vida. Incomodado com isso, escreveu ele em suas cartas a Régis Bonvicino em Envie meu dicionário (mantenho o corte poético que Leminski dava às suas frases): “não sei bem dizer se eles gostaram ou não / enfim, o que é gostar? / tenho certeza q para o paladar weberiano-joãogilbertesco / de Augusto / o Catatau deve ter parecido bagunçado demais / irregular demais / entrópico demais / / Augusto nunca foi muito claro comigo acerca do q ele achou do / Catatau produto final / o saque cartésio x trópico a anedota eu sei q ele adora / / décio se refere ao Catatau falando em ‘monolito’, ‘é uma boa’, / coisas assim / / haroldo, de haroldo nunca ouvi nem uma palavra”. Foi justamente Haroldo de Campos quem escreveu sobre Catatau no ano da morte do autor, no texto “Uma leminskíada barrocodélica”. Contudo, Leminski morreu antes de ele ser publicado. Décio, por sua vez, como coordenador da Fundação Cultural de Curitiba, abriu espaço para a pesquisa que terminaria na visão crítica e anotada de Catatau lançada pela Travessa dos Editores em 2004.

paulo-leminski-lotus
A expectativa de Leminski em relação à opinião dos poetas concretos caracterizou boa parte de sua trajetória. Catatau revela um encontro entre as ideias deles (mesmo que não possa ser entendido à luz do plano-piloto) e a Tropicália (Leminski, a princípio, dedicaria o livro a Caetano Veloso e a Gilberto Gil). Ou seja, o cartesianismo é visto como pano-de-fundo para um movimento de contracultura (embora seja difícil negar que haja nesta, como em qualquer transformação cultural, um pensamento pré-programado). Lembremos também que Caetano, em 1981, lançou a música “Outras palavras”, uma composição de influência joyciana e também leminskiana – já que o cantor e o poeta conviviam com frequência naquele período (mesmo que Caetano não o cite em nenhum momento em Verdade tropical). Essas influências mostravam os caminhos de Leminski, dividido entre e o erudito e o popular.
Catatau, ao mesmo tempo, e não há nada de novo nessa consideração, dialoga criticamente com obras experimentais, como Finnegans wake e Ulysses, de Joyce, Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, e Galáxias, de Haroldo de Campos. Sem dúvida, as palavras-montagem e o clima onírico na obra de Leminski dialogam com as criações joycianas. Também há traços de Guimarães Rosa. Em comparação à obra máxima do escritor mineiro, no entanto, como respondeu Leminski numa entrevista à revista Quem (1978), Catatau tenta ir além, chegando aos limites da “ininteligibilidade” e avançando nos meandros do Finnegans wake, que, para o teórico francês Michel Butor, poderia ser lido a partir de qualquer página. Considerar a obra uma diluição ou uma glosa da de Haroldo de Campos já não parece tão verdadeiro. Não que Galáxias não tenha servido de forte inspiração para Leminski – serviu. Mas Catatau, embora não pareça, é um livro que apresenta, ao contrário da multiplicidade barroca de Haroldo, uma ideia (fantasiosa) básica: a de René Descartes (latinizado para Renatus Cartesius, como era de praxe na época) ter parado em terras brasileiras, mais exatamente na Recife holandesa de Maurício de Nassau, estando à espera do polaco Articewski, estrategista do exército da Companhia das Índias Ocidentais, para solucionar suas dúvidas, despertadas pela febre diante do universo tropical, de paisagens em forma de pesadelo, línguas e linguagens excessivas para seu racionalismo. À espera dele, Cartesius caminha pelo parque de Vrijburg, construído por Nassau em Recife.
Catatau parece apresentar uma ligação, por vezes alegórica, com passagens significativas da trajetória de Leminski, que era professor de história, com tendência a Borges. Foi numa aula de história que, en passant, Leminski teve a ideia de imaginar que, se Maurício de Nassau veio a Recife, Pernambuco, pode ter vindo junto, em sua comitiva, o filosófo René Descartes, que pertencia ao seu círculo. Isso nunca aconteceu. Ou seja, a história de Leminski é implausível do ponto de vista histórico. A ideia anotada durante a aula acabou virando um conto chamado Descartes com lentes, que Leminski enviou ao 1º Concurso de Contos do Paraná. Por uma confusão na hora de contar os votos, perdeu (mas Fausto Cunha, representante do júri, escreveria a Leminski, em 1987, dizendo que o melhor conto havia sido o dele). Como escreve Leminski, no texto “Descordenadas artesianas”, que encerra Catatau e ajuda a explicá-lo: “Descartes com lentes era um esquema: trazia em si um princípio de crescimento, uma lei e uma necessidade de expansão, como uma alegoria barroca”. Alegoria barroca, como a vida de Leminski, que misturava inúmeras linguagens. Ele lidou com uma quantidade considerável de leituras, de experimentações, de identidades: estudou no Mosteiro de São Bento (onde se aperfeiçoou no latim, que utilizaria em sua tradução, em 1985, de Satyricon); largou duas faculdades, de Letras e de Direito; viajou de carona, como um beatnik, para a Semana de Poesia de Vanguarda, em Minas Gerais, onde conheceu os poetas concretos; trabalhou como professor em cursinhos, para depois viver como um hippie no Rio de Janeiro; e, ao voltar para Curitiba, ingressou na publicidade, foi professor de judô e um representante da contracultura de Curitiba, não se ligando, contudo, às linhas básicas de certa poesia marginal mais conhecida (a de Cacaso). De um autor com essas características e máscaras (personae) não se poderia esperar certamente um romance linear: e dar como subtítulo de Catatau a definição de “romance-ideia” é oferecer um resumo direto ao leitor – mesmo que ele tenha escrito na nota ao livro, “Repugnatio benevolentiae”: “Me nego a ministrar clareiras para a inteligência deste catatau que, por oito anos, agora, passou muito bem sem mapas. Virem-se”. O recado parece ser de que o leitor desista de procurar uma narrativa em seu livro, mas que busque “ideias”, “linguagens”, “insights”, misturas de estilos. Catatau é composto por imagens características de “alegoria barroca”, como ele escreve em “Descordenadas artesianas”, dentro de uma “estética do desperdício”, conforme Severo Sarduy, nunca buscando algum centro, deixando o fluxo aberto à experimentação, através de uma sonoridade própria da tradição galego-portuguesa). O fluxo é contínuo ao longo das mais de 200 páginas sem parágrafos, sem personagens bem delineados, tramas internas ou sequências lineares. O mote inicial é apenas um motivo para Leminski anarquizar com a linguagem. Como escrevia Leminski, no seu ensaio “Anti-projeto à poesia no Brasil”, publicado na revista Convivium (1965): “A prosa poética é a corrupção da prosa: mais vale a poesia prosaica. Poesia prosaica, vale dizer, a tudo aberta, compreensiva. Os fazedores de poesia prosaica são os maiores inventores: Dante (…), Tristan Corbière (…), Ezra Pound. A adoção-compreensão da poesia prosaica era um passo à frente”.

catatauoriginal
Em Catatau, em meio a um aglomerado de linguagens configuradas pela “poesia prosaica”, encontra-se a admiração de Leminski pela mitologia grega, que antecede, afinal, o racionalismo cartesiano, onde ainda se separavam os deuses dos comuns mortais. A figura de Narciso, que ganharia relevo em seu livro Metaformose, permeia Catatau (as citações são muitas, mas talvez colaborem na interpretação do livro): “Narciso contempla narciso, no olho mesmo da água. Perdido em si, só para aí se dirige. Reflete e fica a vastidão, vidro de pé, perante vidro, espelho ante espelho, nada a nada, ninguém olhando-se a vácuo”; “Olhos. Espelhos d’alma, Narciso está?”; Amores de Narciso: preciso: sair do espelho. Narciso, o ausente no lugar”; “No espelho triplo, se repete o eco e diz de novo que era assim”; “Alma, entra dentro de ti mesma, o alvo não passa de um espelho”, “Meu narcisismo anarquiza a alta conta, elevada estima e grande monta de consideração: uns catipiripapos, e a criatura fica parecida com a caricatura”. E define: “Anarquizo Narciso”. Parecem trechos saídos diretamente de Metaformose, escrito anos depois e deixado no fundo de uma caixa dada por Leminski à amiga e poeta Josely Vianna Baptista.
Em Catatau também estão o labirinto do Minotauro e Ariadne, sereias, Aquiles e a tartaruga, Zenão, Medusa, centauros, persas, Dédalos, Vênus, Hércules, Atenas, e Tróia; citações a filósofos (Sócrates, Platão, Aristóteles, obviamente Descartes). São traços de um universo filosófico e mitológico que se faria presente também em Agora é que são elas (1984), um novo fracasso do autor, no qual Leminski dizia trabalhar a ideia da impossibilidade de escrever um romance – quando a impossibilidade de escrever um romance linear já estava em Catatau.
A impossibilidade de escrever um romance linear vai certamente contra a figura de Descartes num livro como Discurso do método. Leminski desconstrói o método de Descartes, o mesmo que faria com as funções do conto nas teorias do russo Propp, em seu romance dos anos 80, zombando de sua filosofia (“Sou louco logo sou”), mas, ao mesmo tempo, o utilizando como mote para contestar a linguagem ditatorial de seu tempo. Como Cartesius iria descrever a razão lógica, que é filha da democracia, num país dominado pela ditadura (esquecendo-se aqui que a narrativa se passa na Recife holandesa, e se lembrando que Leminski menciona muitas vezes em Catatau a cidade de Brasília, arquitetada por Niemeyer)?
A falta de lógica se adensa quando surge o monstro Occam, para descontrolar ainda mais a linguagem do confuso Cartesius. Além disso, espalha referências à cultura polonesa pelo texto – afinal trata-se da espera de um matemático como Descartes por um polaco, Artiscewski (grafado de outras formas ao longo do livro). Mas Leminski está mais para as dúvidas de Descartes do que para a embriaguez do polonês em questão. Como Descartes faz em seu Discurso do método, Leminski, no decorrer de Catatau, fala de sua pretensa trajetória intelectual, desde a infância: “Letras me nutriram desde a infância” – como escreve Descartes em seu livro –, de impressões sobre bichos, máquinas e a sobre a função do corpo. Leminski não é Descartes, mas tem muito dele, tanto que se sente à vontade para zombar de seu trabalho, pois zomba de si mesmo. Afinal, se ele foi tão influenciado pela poesia concreta, ele possivelmente tinha uma mente em parte cartesiana. Com isso, se percebe em Catatau, como um contraponto à filosofia de Descartes, que tinha como objetivo discutir as questões metafísicas. Leminski, ex-seminarista do mosteiro de São Bento, se pergunta: “Como pode haver mais de um deus se sou só um eu, um sou?”. Há momentos que parecem recriados (e não transpostos) a partir de sua vivência no mosteiro de São Bento: “O pastor carrega suas ovelhas por dentro, interioriza o rebanho, assimila a páscoa e desaparecem pastor e rebanho”; “Naveguei com sucesso entre a higiene e o batismo, entre o catecismo e o ceticismo, a idolatria e a iconoclastia”; “Mosteiro comigo às costas, o caramujo cara de monge”. E há referência ao fato de a flora e a fauna do Brasil parecerem, ao olhar europeu, uma espécie de paraíso: “Dei dez pontos do pomo de Adão ao umbigo de não sei quem”; “Dor, no éden. Ser, em casa. Voz, debaixo dágua alguma”.

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O mais interessante é que, como percebe Flora Süssekind, no ensaio “Hagiografias”, Leminski foi um dos poetas que mais se utilizaram de uma temática religiosa, algo bastante raro na literatura brasileira. Versos como “um deus também é o vento / só se vê nos seus efeitos / árvores em pânico / bandeiras / água trêmula / navios a zarpar”, até pedir: “me ensina / a sofrer sem ser visto” e consagrar: “a este deus / que levanta a poeira dos caminhos / os levando a voar / consagro este suspiro / / nele cresça / até virar vendaval” mostram sua inclinação a uma subjetividade baseada na formação religiosa.
A insegurança humana, misturada à religiosidade de Leminski, o leva a escrever os seguintes versos em La vie en close, desconfiando de si mesmo: “pedirem um milagre / nem pisco / transformo água em água / e risco em risco”; “desmantelar / a máquina do amor / peça por peça / onde luzia flor e flor / não deixar nem promessa / isto sim eu faria / se pudesse / transformar em pedra fria / minha prece”. Ou em “não são / são não / rogai por nós / para que não / sejamos senão”. Temos também, em O ex-estranho, aquela poética religiosa de ex-monge beneditino, que Leminski concentra no fundo de sua obra, percebida, com mais destaque, em “Sacro lavoro”, no qual ele lembra: “as mãos que escrevem isto / um dia iam ser de sacerdote / transformando o pão e o vinho forte / na carne e sangue de Cristo / / hoje transformam palavras / num misto entre o óbvio e o nunca visto”. Num outro poema do livro, “Tamanho momento”, diz: “nossa senhora da luz / ouro do rio de belém / que seja eterno este dia / enquanto a sombra não vem” e “nunca sei ao certo / se sou um menino de dúvidas / ou um homem de fé / / certezas o vento leva / só dúvidas continuam de pé”. No entanto, resta a esperança de “Sintonia para pressa e presságio”, de La vie en close: “Eis a voz, eis o deus, eis fala, / eis que a luz se acendeu na casa / e não cabe mais na sala”. Em “Profissão de febre”: “quando chove, / eu chovo, / faz sol, / eu faço, / de noite, / anoiteço, / tem deus, / eu rezo, / não tem, / esqueço”.
Leminski desconfia de um deus que possa salvá-lo, mas é visível que alguns de seus poemas são teológicos: eles falam de um deus que o poeta quer tornar visível, mesmo impossibilitado, chegando a um bom humor, em Distraídos venceremos: “eu ontem tive a impressão / que deus quis falar comigo / não lhe dei ouvidos / / quem sou eu para falar com deus / ele que cuide dos seus assuntos / eu cuido dos meus”. Os poemas de Leminski são densos e comovem, como a biografia que ele fez de Jesus Cristo, vendo essa figura religiosa antes de tudo como um poeta. Entre o Colégio São Bento e a fuga e a rebeldia, Leminski se situa no paradoxo da própria dúvida. Hegel afirmava que a religião tinha algo sublime: ela consiste em “não permanecer presa a nenhuma intuição ou deleite passageiro, embora anseie por beleza e bem-aventurança eternas”. O que ela procura é, em suma, “o absoluto e o eterno”. Leminski desconfia do absoluto e do eterno – mas sabe que no seu subjetivo a ordem cresce em sua escrita, precária e passageira.
Parece-me inadequado, com tudo isso, as referências mito-filosóficas e religiosas, ver Catatau apenas como um duelo entre o erudito (como as citações em latim, o discurso religioso, o pensamento filosófico matemático) e o popular (as brincadeiras com os provérbios). Isso dá a impressão que o livro é denso por um lado e rasteiro por outro, ou que é uma espécie de briga entre o erudito e o popular, o que não é o caso: Leminski mantém o ritmo e a consciência de linguagem ao longo de toda a obra, não deixando se impregnar demais pelo rebuscamento ou adotando uma espécie de escrita automática, nem caindo em gracejos – a brincadeira com provérbios, por exemplo, não tira a densidade do texto; os provérbios são subvertidos em prol de um experimentalismo da linguagem de Descartes. Se algumas vezes esse programa acaba cansando em alguns momentos, a linguagem consegue ser sempre ousada, com a sintaxe que se destacaria nos autores neobarrocos, com delírio da imaginação. Leminski mantém sua obra aberta. A linguagem de Descartes, atingida por Occam, por filosofias religiosas, por sonoridades plurilíngues, é afastada do racionalismo, da matemática cerebral e se aproxima de uma espécie de “sonho da razão” de Goya.